10 março 2013

Auto-Retrato

Auto-Retrato

Eu. Cristina. Mulher.
Calma. Alegre. Forte.
Olhos brilhantes.
Lábios carnudos.

Mãos frágeis.
Tronco roliço.
Mente curiosa. Interesse desperto.
Leitura DeVidas.
Ávida DeVida.
Assim sou.

16 outubro 2008

Hoje continuàmos À ESPERA...


É verdade, desta vez foi o 7.º A que visitou o Centro de Recursos, acompanhados da professora Sandra António, para mais uma sessão de divulgação do álbum EU ESPERO, de Davide Cali e Serge Bloch.
Após desvendarem o conteúdo deste livro-envelope, descobriram que o fio vermelho, afinal, já tinha passado por uma das suas aulas.
Partilharam os seus desejos e escreveram um novo livro.
(Aos que estão confusos, aconselho a leitura do álbum, talvez descubram "o segredo"...)
Agradeço a vossa presença e entusiasmo e EU ESPERO, como sempre, que tenham gostado e voltem mais vezes...
A Coordenadora,
Professora Jacqueline Duarte

28 setembro 2007

Foi notícia

Querem saber algumas das conclusões a que cheguei com o meu trabalho? Ora leiam lá aqui.

Relembrar o passado

Antes que termine o ano civil e mergulhemos nas actividades deste ano lectivo, aqui ficam imagens do passado mês de Julho. Passaram dois meses, é certo, mas os bons momentos não devem ser esquecidos. Organizada pelas nossas formadoras e professoras Jacqueline Duarte e Cristina Cruz, no âmbito da nossa Oficina de Formação, foi levada a cabo uma visita à Biblioteca da nossa Escola e à Biblioteca da EB 2/3 aqui de Mafra.
Comecemos pelo início. O encontro das formadoras e formandas deu-se logo pela manhã do dia 11 de Julho. Fomos recebidos pela Coordenadora da Biblioteca/Centro de Recursos, professora Lurdes Fonseca, que nos levou a conhecer o espaço, bem como as actividades levadas a cabo ao longo do último ano, tendo traçado ainda um breve historial da Biblioteca da Escola. Aqui ficam algumas imagens:



fotos: minhas

Depois de termos visitado o Centro de Recursos/Biblioteca da Escola Secundária José Saramago, rumámos até à E. B. 2/3 de Mafra para completarmos a visita. Fomos recebidos pela professora Júlia, uma verdadeira entusiasta das novas instalações da Biblioteca. Longe vão os tempos em que o frontispício da Biblioteca era assim:

Por muito estranho que pareça, temporariamente, a Biblioteca da E. B. 2/3 de Mafra esteve alojada num autocarro. A viagem vai começar. Toca a embarcar...

Então, mas isto não é um autocarro? Lá dentro, a curiosidade aumenta...

Isto parece-me familiar...

Mas os tempos mudaram e a Biblioteca também.

Arejada, cheia de luz, bem rechada de livros, um espaço óptimo de convívio entre os utentes da Biblioteca e os livros

Mas os livros arrumadinhos nas estantes sem ninguém que os manuseie, que os folheie, que os leia são livros mortos e claro que os amantes de livros não querem nunca que tal lhes suceda...

Devolvamos-lhes então a vida!

Fotos: minhas

Também aqui

13 julho 2007

Desafios

O que é isto?


Assinale a resposta correcta:

*um autocarro
*uma caminoneta
*um monumento
*uma carreira do Sardinha
*nenhum dos anteriores

foto: minha

11 julho 2007

Despedidas...

Também para nós a história chegou ao fim... Da nossa parte foi um prazer trabalhar com este grupo de "missionários" da leitura! Desejamos que, agora, daqui a dois meses, no próximo ano, em algum momento, o que aqui trouxemos vos seja útil, vos ajude a (re)ler práticas pedagógicas.

A finalizar, deixamos os votos de que o futuro vos traga "boas leituras"!

Cristina Cruz e Jacqueline Duarte

P.S. Hoje, oficialmente, a oficina de formação "A Biblioteca Escolar e as Literacias do Século XXI" encerrou. At last, but not least , as 50 horas esgotaram-se, mas a "morada virtual" permanece. A porta fica aberta para visitas, "releituras" e novas mensagens. Até sempre!

Vitória, vitória, acabou-se a história...

Já? Pena, pois haveria muito mais a ser explicitado e referido pelas colegas de trabalho sobre as experiências pessoais da docência.
Já? Pena, pois mais informação talvez poderia ser disponibilizada pelas colegas-formadoras.
Já? Boa, pois foram muitas horas laboriosas.

Fernando Justo

Em cada fim um início

Vitória, vitória, acabou-se a história...

Depois destes meses de trabalho e glória
De muito saber, partilha e leitura
Debandamos daqui para nova aventura

Mas para que não se mate a memória
E se esqueçam momentos de prazer e candura
Voltaremos para contar nova história

Vitória, vitória, acabou-se a história...

Ah! Que susto! Afinal só se acabou a história com “h” minúsculo, resta-nos ainda, ou para sempre, a História do e com “H” maiúsculo, onde poderemos continuar esta profícua e maravilhosa história, reescrevê-la, aperfeiçoá-la e recontá-la…
Do acontecer desta história, guardo sobretudo o que aprendi com as experiências de todos, formadoras e formandos. Bem-haja.
E o meu repto é o de que continuemos, rumo à vitória, as histórias da História!

Vítória, vitória, acabou-se a história...

Vitória, vitória, acabou-se a história?!
Hum... Não creio. Perdoem a "ousadia", mas, após tantas e tão trabalhosas horas de formação, não queremos, certamente, ficar por aqui. Continuemos a história, aqui ou na rua, na escola ou em casa (na minha ou na tua?). E todos têm tanto para partilhar...
Vitória, vitória, continuemos a história!

Vitória, vitória, acabou-se a história...

de uma viagem de aprendizagem.

Lemos,
Escrevemos,
Pensámos,
dialogámos,
Rimos,
Biblioteclámos.

Todos juntos, chegámos.

Com algo de novo na bagagem,
nova partida, nova viagem.

O longe ficará mais perto,
na caminhada que para muitos é deserto.

Mas eu daqui me vou
com um horizonte mais aberto.

Vitória, vitória, acabou-se a história...

Vitória, vitória, acabou-se a história,
ou será que começou?
Sim, sem dúvida, começou
porque muito aprendemos,
muito mais aplicaremos,
afinal, nada findou!

Bom trabalho!
Auto-Retrato

Eu Cristina Mulher Calma Alegre Forte Olhos brilhantes Lábios carnudos Mãos frágeis Tronco roliço Mente curiosa Interesse desperto Leitura DeVidas Ávida DeVida Assim sou

Da vida um momento

Olhos cor de azeitona
Cabelos leva-os o vento
Entre papéis e os livros
Baixinho sempre o lamento

Dias de sol são glória
O Inverno um tormento
Prevalece a memória
Da vida faz um momento.

Retrato(s)

Passa o Tempo,
Muda-se o meu retrato...
E vejam lá
Que eu nada faço!

Auto-Retrato


Pequenina, dizem que sou.
De olhos castanhos e pele morena.
Sorriso aberto
Porque a vida vale a pena.

Tagarela, dizem que sou.
Falo muito e com toda a gente.
Mas, cuidado!
Há que fazê-lo sorrateiramente...

Auto-Retrato


Cara oval, nariz de palhaço,
Por vezes um excesso de sorriso
Que provoca embaraço.

As mãos grandes
Cabelo desalinhado
A altura faz ficar
O mundo vigiado!

Auto-retrato

Euzinha
Nasci em 1979.
Sou professora de Língua Portuguesa do Ensino Básico.
Já tive alguma experiência em formação para adultos, mas o que gosto mesmo é de trabalhar com crianças.

Eu
Nasci em Fevereiro de 1979, na cidade de Coimbra. Conclui o curso na Universidade de Lisboa e leccionei o primeiro ano no Barreiro, o que não foi tarefa fácil. No entanto, como diz o velho ditado, “Quem corre por gosto não cansa!”
Sou solteira. Resido em Leiria, mas a paixão pelo ensino encarregou-se de me levar até uma terra chamada Venda do Pinheiro, onde resido actualmente.


Euzona
É sempre agradável falarmos das nossas recordações.
Nasci a vinte de Fevereiro da graça de 1979, um mês muito frio. Ao contrário deste frio mês, foi imenso o calor com que fui recebida no seio da minha família. Pai, mãe, irmã e euzona…posso dizer que tive uma infância feliz.
Quando era pequena já escrevia algumas linhas que, para mim, faziam todo o sentido. Não me importava com o que as outras pessoas pensavam.
Sempre gostei de escrever… ainda me lembro dos tempos de adolescente quando redigia nas páginas do meu diário tudo o que via, ouvia e sentia a cada dia da minha vida.
O tempo foi passando e, na verdade, cada vez gosto mais de escrever. Cada texto que redijo, em prosa ou poesia, quando estou sozinha, é o espelho da minha alma que tenta, sempre, afastar as tristezas através da escrita. Afinal, para mim, escrever significa alegria! E porque a vida deve ser vivida, sempre, de forma alegre, mesmo com todas as vicissitudes por que passamos… jamais deixarei de escrever…
Assim sou Euzona…

Autobiografemo-nos

Preparem-se para grandes revelações! É que a nossa colega Vânia lançou-nos o repto de nos autobiografarmos, a propósito de um belíssimo texto da Cecília Meireles. Leiam o texto mas aguardem a nossa veia artística, quem sabe não estarão escondidas Cecílias Meireles nest@s singel@s professor@s...


Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Cecília Meireles

PLANIFICAR UMA ESTRATÉGIA DE FORMAÇÃO DE LEITORES

Perfil 2:
- Aluna com 13 anos (sexo feminino);
- Gosta de aventuras e interessa-se por problemas sociais;
- É leitora, mas tem um aproveitamento escolar negativo

Confrontada com este perfil de aluno, lembrei-me, desde logo, da Joana, aluna que estava a repetir o sétimo ano e que integrava uma turma de dezanove alunos, dos quais doze eram repetentes, que tinham, pelo menos, mais uma retenção no 1º Ciclo ou no 2º Ciclo. Além disso, e mercê de uma situação familiar complicada, era acompanhada pelo Comissão de Protecção de Crianças e Jovens.
No entanto, convém, referir que, na primeira aula do início do ano lectivo, quando falei com os alunos desta turma acerca dos seus interesses e expectativas, todos me disseram que pretendiam trabalhar e empenhar-se para passar de ano, ainda que, maioritariamente, tenham dito que para já perspectivavam concluir o nono ano e depois logo se via, talvez frequentar um curso profissional.
É também de acrescentar que apontavam como grande causa do seu insucesso escolar a falta de hábitos de trabalho e de estudo, mas colaboravam de forma satisfatória nas actividades propostas em aula.
Assim, e após esta breve introdução, o trabalho que a seguir se apresenta baseia-se na convicção de que é possível melhorar o aproveitamento da Joana, e consequentemente o seu sucesso escolar, tentando “rentabilizar” o facto de ser leitora e se encontrar empenhada socialmente. Então:



Tipo (s) de texto (s): Livros de temáticas diversificadas; Histórias tradicionais.


Estratégias de leitura: Projecto individual de leitura; leitura silenciosa; leitura em voz alta ou dialogada feita pela aluna, individualmente ou em grupo, após preparação.


Público-alvo: Colegas da turma e, eventualmente, de outras turmas da escola do sétimo, da mesma idade, do sexo masculino e feminino ou ainda do ensino pré-primário ou do 1º ciclo de escolas do agrupamento.


Recursos materiais: Livros da aluna ou da biblioteca (escolar ou municipal); histórias tradicionais recolhidas pela aluna ou propostas pela professora da disciplina de Língua Portuguesa.
Recursos humanos: Professores de Língua Portuguesa e de Estudo Acompanhado; bibliotecários, colegas de turma e colegas de escola do mesmo nível de ensino ou do pré-primário/1º Ciclo.



Calendarização: 1º período.


Actividades: Nas aulas inicias, é proposta a construção de um projecto individual de leitura ao desenvolver ao longo do ano lectivo. Para tal, neste primeiro período, é necessário respeitar o seguinte: ler um livro escolhido pelo aluno e apresentar uma resposta de leitura à obra lida – ficha de leitura, a apresentar oralmente à turma e por escrito à professora, em data a definir.
Para ajudar na selecção da obra a ler, apresentar-se-á uma listas de livros de temas diversificados e de acordo com o recomendando para este nível de ensino e levar-se-ão os alunos à biblioteca (escolar ou municipal) proporcionando-lhe uma escolha consciente. A partir daí, os alunos iniciam a leitura silenciosa do livro escolhido, utilizando momentos da aula de Estudo Acompanhado. Terminada a leitura, farão a respectivas respostas de leitura com recurso às novas tecnologias de informação.
No âmbito do estudo das histórias tradicionais, será pedido um trabalho individual ou de grupo de leitura dramatizada (ou mesmo de reconto oral); após preparação e se possível em trabalho multidisplinar( Estudo Acompanhado; Música…), a apresentar aos colegas da turma e, eventualmente, de outras turmas da escola do sétimo, da mesma idade, do sexo masculino e feminino ou ainda do ensino pré-primário ou do 1º ciclo de escolas do agrupamento.



Resultados esperados: Promover/alimentar o gosto pela leitura, incentivar diferentes práticas de leitura e desenvolver o sentido de responsabilidade levando a Joana a conseguir um aproveitamento escolar positivo no final do primeiro período.

10 julho 2007

As partidas de Mercúrio

Planificar uma estratégia de formação de leitores

Perfil 6

*Aluna com dezassete anos (sexo feminino)
*Pouco vocabulário
*A “Internet é o que está a dar…”
*A leitura não é coisa que esteja na moda

As partidas de Mercúrio

Um burburinho constante vindo daquele lado da sala. Não que fosse muito estridente ou sequer perturbador. Indiciava porém alguma impaciência. Com o decorrer do tempo e depois de algumas chamadas de atenção, e também porque partilhávamos o mesmo espaço à mesma hora, fui-me apercebendo de onde vinha a inquietude.
Uma rapariga, não recém-chegada à escola pelo aparente à-vontade com que se deslocava, as calças sempre um palmo abaixo da linha de cintura, amiúde visíveis as réstias de roupa interior, o cabelo ora pelos ombros, ora apanhado e sempre, mas sempre, alguma inquietação e ansiedade na procura do computador disponível que lhe permitisse navegar por esse mundo fora. A impaciência frente a frente com o ecrã era presença habitual nas suas estadias no Centro de Recursos. Inicialmente identifiquei-me com a rapariga Caramba! Tamanha lentidão! Dá para adormecer aqui! Com a passagem do tempo e mesmo em dias em que a net voava pelas auto-estradas virtuais do espaço cibernético, a impaciência da jovem mulher em botão não debandava. O coração, o coração talvez, pensei, que o coração é um bicho matreiro e prega partidas aos prevenidos, quanto mais aos ainda jovens, carecidos de escudo afectivo contra as malvadezas do dito. E como também o coração tem os seus limites, cedo arrumei na estante a hipótese das partidas do órgão sentidor. Não, o coração não era.
Certo dia, quando estava com uma aluna minha, a rapariga voltou aos acessos de intemperança. A amiga a seu lado sorriu e sorriu-me e, dado o à-vontade, perguntou que raio significava aquela palavra. Respondi. A outra suspirou de alívio. Dias e dias à volta com a palavra mas nada de se figurar um sentido, um significado que fosse.
Abeirei-me delas. A rapariga, nos seus dezassete anos, sabia-o agora, tinha dificuldades hercúleas em decifrar vocábulos que lhe apareciam vezes sem conta no ecrã à sua frente. Entabulámos conversa, tocou para a entrada entretanto e cada uma foi à sua vida. Na semana seguinte o mesmo problema e o meu auxílio foi solicitado como tábua de salvação. E se eu não estivesse aqui? A rapariga respondeu Mas está e retorqui E se estivesses em casa sozinha? A rapariga encolheu os ombros, desta vez, resignada com a incapacidade de processar a informação que corria lampeira e sem vergonha no ecrã à sua frente.
Uma ocasião, questionou-me A Setora anda sempre com livros? Quase sempre. Porquê? A rapariga foi lesta na resposta Odeio ler! Como odeias ler? Passas a vida a ler aí no computador! Sim, retorquiu, Mas é diferente. A Setora já viu o camalhaço que são Os Maias? Não só vi, como li, respondi-lhe. Que cena! Disse-me. Aproveitei a deixa Então, mas o teu problema é o tamanho do livro? Até é, não tenho tempo de ler aquilo. Procurei o O nas estantes da literatura lusófona e estendi-lhe Os da minha rua do Ondjaki. Assim está melhor? Ela riu-se Mas isso presta? Tão fininho? Ri-me. Na adolescência raramente nos satisfazemos com algo. Leva e lê.
Para a semana falamos.
Na semana seguinte a rapariga não apareceu. Tinha sido acometida de um catarro forte que a obrigara à reclusão do lar, a acrescer a isto, o Mercúrio estava retrógrado e, portanto, o computador de casa finou-se com um chiar fininho para nunca mais dar conta de si. É sabido que o Mercúrio é um péssimo conselheiro de todas as maquinarias, engenhocas e aparelhagens eléctricas e electrónicas.
Quando regressou, estendeu-me o livro Já li! E então? Questionei É muita louco! Quem é este Ondjaki? Aconselhei Vais à net e fazes uma pesquisa. Ah mas esta malta dos livros não está na net. A Net é muito à frente!!!! disse convicta. Deixei-a sossegada e esperei pela semana seguinte. Veio ter comigo Eh, ganda cena, setora! Já sei quem é o Ondjaki! Boa! respondi. Afinal, estava ou não estava na net? Regressei ao trabalho e perto do toque a rapariga veio ter comigo.
Setora? Sim! Há mais livros destes?

Leonor Barros

09 julho 2007

Planificar uma Estratégia de Leitores

Perfil de leitor:
· Aluno de 16 anos
· Sexo masculino
· Adora bibliotecas (e livros)
· Fluente na leitura
· Não lê …
· Cheiro de livros ‘ é o melhor que há ‘

Pretendo usar-me de uma pessoa do sexo masculino, com 16 anos, adolescente, aluno meu, no 11º ano de secundário, que adora ler, sobretudo o que se refere a Literatura, portuguesa geral e actual, e a Filosofia, embora esteja matriculado na área de cientifico-naturais, apesar de ler pouco de literatura portuguesa do século XVI, matéria deste seu ano de escolaridade, bem como de literatura castelhana do mesmo século, igualmente importante para conhecimento desta arte, e de ter-me aparecido um dia nas aulas com uma obra muito volumosa, cuja língua desconhecia, mas que lhe parecia ser interessante.
Descobri que essa obra era ‘ Don Quixote ‘ de Cervantes e escrito no seu original castelhano.
Como sempre achei, e talvez por nunca me ter acontecido como aluno de complementar na década de 70 do século passado, que a literatura geral portuguesa de seiscentos deveria vir sempre acompanhada de outra próxima da mesma época, principalmente, a castelhana, e pela última razão descrita antes, considerei interessante pretender realizar este trabalho de Acção de Formação.

Em nota breve inicial, pretendo introduzir uma resumida biografia do autor literário que desejo que o aluno-pessoa alvo desta actividade possua-investigue para iniciar a leitura de suas obras:
MIGUEL de CERVANTES SAAVEDRA nasceu em Alcalá de Henares, em 1547 e morreu em Madrid, em 1616. Escreveu várias obras, sendo a mais conhecida, em romance de cavalheirismo, Don Quixote de la Mancha, quando se encontrava preso em Sevilha, entre 1577 e 1602 e em 1615. Outras obras são as Doce Novelas Ejemplares, Galatea, Rinconete y Cortadillo, Colóquio de los Perros (novelas cómicas), Viaje del/al Parnaso (poesia), Ocho Comedias y Ocho Entrementes Nuevos (comédia), Política de Diós y obierno de Cristo, Conservación de Monarquias (política), La Numantia (drama bélico), todas escritas entre 1518 e 1616, havendo algumas postumamente saídas a público.

Fernando Justo

08 julho 2007


Planificar uma Estratégia de Formação de Leitores

Perfil 1
. aluno com 11 anos
. sexo masculino
. gosta de futebol, aventuras
. tem uma leitura fluente, mas não lê

O menino que não gostava de ler

“Pelo sonho é que vamos...” como diz o poeta e é sempre bom sonhar-se que, de qualquer modo, conseguimos levar alguém a gostar de ler um livro mesmo que pequeno; a gostar de sentir prazer ao folhear um livro; a gostar de apreciar o cheirinho bom das folhas de um livro quer já antigo quer acabadinho de ser impresso, cheiinho de letras, de palavras, de frases que nos acariciem a alma.
Neste meu trabalho, permito-me sonhar que levo o meu rapaz, o Gonçalo, a gostar de ler.
Poderia ser o meu filho, de nome Gonçalo também.
Mas não. É um aluno meu, de onze anos ladinos, irrequietos, engraçados, cabelo ruivo e cheio de gel, inúmeras sardas a pintalgarem-lhe o rosto meigo, sorriso de orelha a orelha, sempre o primeiro a levantar a mão para ler.
E que bem que lê! Fluentemente, diria eu. Vozita clara, fresca, como tudo nele. Adora futebol. É do Benfica. “Como o meu avô, o meu pai e o meu mano Pedro.” – diz ele, todo feliz, quando me mostra o seu cartão de sócio, cheio de orgulho. O seu ídolo é o Nuno Gomes. Tem na sua estante do quarto, cheio de Sol, a biografia dele mas ainda não a leu até ao fim. Talvez vá em metade... “Não gosto de ler!” – diz, olhando-me com um misto de pena e atrevimento. Não é para me provocar bem sei. Não gosta mesmo! “Gosto é de aventuras!” – acrescenta. “Se eu fosse o Super-Homem...”. E a sua vozita faz-se ouvir, no meio do burburinho dos colegas de turma, que sorriem, habituados às suas peripécias do dia-a-dia.
Olho-o e sorrio. Vejo nele o meu filho mais novo e quero ajudá-lo a descobrir que os livros, além das crianças, são o melhor do mundo.
O ano lectivo começou há um mês e proponho-me levar o Gonçalo a gostar de ler até ao final deste ano. Quando o terceiro período chegar ao fim, o meu Gonçalo sardento irá querer levar para a praia ou para a piscina, a sua bola vermelha e branca, os óculos de sol, o MP3 e, no fundo da mochila encarnada, junto ao lanche, um livro de aventuras ou talvez de poemas. (Posso sonhar, não é?). Debaixo do chapéu-de-sol, cansado de nadar e de se exibir a saltar da prancha para as águas azuis da piscina do Parque Desportivo, vai pegar no seu livro e ler. A sua manhã foi uma verdadeira aventura. Até a sua colega loirinha, a Anita de doces olhos azuis e por que o seu coração bate com mais força, olhou tanto para ele!
A grande questão é: “Como levar o meu Gonçalo a ler?”. Pensei, pensei e acho que cheguei a uma conclusão. Talvez dê certo! Quem sabe? Se não resultar, experimento outra estratégia. O importante é tentar, tentar sempre e nunca desistir. Um professor não pode desistir por mais difícil que a tarefa lhe pareça. E que complicada esta é!
Antes de elaborar o meu plano de aula, dirigi-me à biblioteca da minha escola. É um espaço óptimo, soalheiro, agradável, cheio de pessoas simpáticas, dispostas a ajudar.
Não tenho só um Gonçalo no 6.º ano, turma A, mas seis ou sete. E é neles que penso, neste momento, ao falar com a Dona Amélia que me indica livros sobre futebol, assunto que não domino minimamente.
“Comecemos pelos mais acessíveis, professora Olga” – diz ela – “Temos aqui Pedro, o Fura Redes, de Fernando Correia, da Alêtheia Editores. Depois talvez o livro Tensão no Euro 2004, de António Avelar de Pinho e Pedro de Freitas Branco, da Editorial Presença e, por fim, a colecção Objectivo Golo, de Nuno Magalhães Guedes, da Verbo. Que lhe parece, professora?”.
Estou espantada. Não sabia que a nossa biblioteca estava tão bem apetrechada.
“Óptimo, dona Amélia.” – respondo eu.
“Não se esqueça que ele pode sempre consultar sites na internet com biografias e entrevistas aos seus futebolistas preferidos.” – acrescenta a dona Amélia.
“Grande ideia! E quanto a aventuras, o que me aconselha?” – pergunto eu.
Percorremos os corredores cheios de livros arrumadinhos, certinhos, colocados no sítio certo, à espera de serem requisitados e transformados em companhia, em amigos. Iniciámos a viagem pelos mais fáceis como Chiu! Que estou a ler!, de Maria da Conceição Coelho, da Europa América, passando pelos 1001 Detectives, da Editora Caminho, escrito pelo Carlos Correia e pela Maria Alberta Menéres e acabámos no Bando dos 4, de João Aguiar, publicado pela Editora Asa.
Munida desta informação preciosa, regressei a casa e preparei a aula para o dia seguinte. Aproveitando para leccionar o conteúdo programático da entrevista, entreguei à turma do meu Gonçalo, um guião de entrevista, que ajudasse os meus alunos nas questões que poderiam colocar, em trabalho de par, aos seus heróis ou ídolos preferidos e lhes ensinasse a técnica da entrevista.
Quem seria o ídolo ou o herói escolhido pelo Gonçalo e pela Joana? A quem iriam colocar questões? E que questões essas? Confesso que estava curiosa.
Depois do trabalho feito, os diferentes pares foram lendo, à turma, as respectivas perguntas. Algumas bem engraçadas e que nos arrancaram sonoras gargalhadas; outras bem estruturadas, sérias e mesmo profundas. O Gonçalo e a Joana decidiram entrevistar o José Mourinho.
Ainda bem que as questões não saíram da sala 7, do Pavilhão B, ou o nosso Mister ficaria seriamente atrapalhado, perante estes dois jornalistas em miniatura.
Na aula seguinte, fomos à biblioteca e cada um requisitou um livro, que teria de ler, em casa, durante as duas semanas seguintes. O Gonçalo escolheu Pedro, o Fura Redes. Eu aproveitei para requisitar e reler Os Capitães da Areia, do meu querido Jorge Amado. É importante, é necessário que os alunos sintam que eu sou como eles e que eu seja um exemplo a seguir.
Passaram as duas semanas e dedicámos uma outra semana à apresentação dos livros lidos. Comecei por lhes ler um pequeno excerto do meu livro, em voz alta e expressivamente. Falei-lhes um pouco da história e apontei-lhes as razões que me levariam a aconselhar a sua leitura. Ouviram-me atentamente e todos fizeram o mesmo. No final, preenchemos uma pequena ficha de leitura e quem quis, ilustrou-a.
O Gonçalo desenhou um jogador do Benfica, todo aperaltado, equipado a rigor, uma bola vermelha enorme e uma baliza descomunal em que cabiam todos os golos da sua imaginação!
Como trabalho de casa teriam de fazer uma pesquisa sobre o autor, procurando na net, num manual ou numa enciclopédia e redigir um pequeno texto para ser lido na aula. Como texto do mês, a que os habituara desde o quinto ano, poderiam aproveitar para fazer o resumo ou o reconto da obra acabadinha de ler e ilustrá-la. Dei-lhes uma semana para a tarefa ficar concluída.
Todos fizeram o que eu lhes pedira no tempo proposto. Os recontos e os resumos foram corrigidos por mim, lidos à turma, pelos respectivos autores e colocados nos quadros de cortiça da sala 4, do Pavilhão A.
“E agora, o que faça relativamente às aventuras?” - pensei eu – “Isto é que é uma verdadeira aventura para mim!”
“E se eles escrevessem uma pequena aventura colectiva será que resultaria como preparação do caminho para mais uma ida à Biblioteca Escolar?” – interrogava-me.
Pensei e considerei a ideia boa.
Numa sexta-feira, à tarde, aos dois últimos tempos, cheguei à sala e propus-lhes a redacção de uma aventura colectiva começada por “Era uma vez...”, em que cada um continuasse a ideia do outro e em que as frases fossem sendo, simultaneamente, registadas no quadro e nos cadernitos diários.
A princípio refilaram com o humor costumado de sexta-feira à tarde, mas depois que aventura! Que aventura dali saiu! Havia um príncipe loiro, musculoso, de lindos olhos verdes, uma princesa morena, linda de morrer, de enormes olhos azuis, um castelo bem guardado por um terrível dragão que lançava chamas azuis das narinas enormes e um casamento feliz, na igreja de Mafra, depois de um salvamento complicado e bem arriscado.
Na segunda-feira seguinte, o conto colectivo foi lido à turma. A grande maioria tinha-o ilustrado e alguns tinham-no passado a banda desenhada.
Os trabalhos foram afixados no painel da nossa sala e mais tarde no Polivalente e na Biblioteca.
Passados dias, lá fomos nós, de novo, à nossa biblioteca requisitar livros de aventuras.
O Gonçalo requisitou os 1001 Detectives! Os livros foram lidos, durante as férias da Páscoa e preenchidas as respectivas fichas de leitura.
Ao regressarem, apresentaram as suas fichas e os seus livros aos colegas. Surpresa das surpresas, os olhitos atrevidos do meu amigo Gonçalo brilhavam ao falar do seu livro.
Deduzi que tinha gostado do que lera e começado a gostar de ler. Fiquei feliz, como ficamos sempre que conseguimos alcançar o que queremos.
Agora o meu Gonçalo continua a ler fluentemente e lê. Descobriu que se podem viver aventuras, ser o super-homem, jogar à bola, marcar golos como o Ronaldo, sem sair do conforto do sofá. Descobriu também que pode viajar no tempo, atravessar oceanos, conhecer novos mundos, ir a estádios repletos de adeptos, à luz do seu candeeiro de mesa-de-cabeceira, debaixo dos seus cobertores e no conforto da sua camita e eu na minha, já cansada de mais um dia de trabalho, apago a luz, cerro os olhos e penso: “Que bom! O meu Gonçalo já lê!”

Olga Macedo. Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos de Mafra
Planificar uma Estratégia de Formação de Leitores

Perfil 1 *
. aluno com 11 anos
. sexo masculino
. gosta de futebol, aventuras
. tem uma leitura fluente, mas não lê

Antes de começar este pequeno relatório gostaria de dizer o seguinte:
«Folhear um livro é espreitar para dentro de uma caixinha sem chave, uma caixinha ao alcance das mãos e dos olhos» António Torrado
Livro; uma máquina de viajar no tempo, companheiro de aventuras nos mares ignorados e nas Ilhas que os mapas não registam.
Ao abordar este simples relatório, o que penso imediatamente é nos meus filhos. Quando eram pequenos iam para a cama com um livro, a Inês mais velha já fazia perguntas e eu estava a reparar que a minha filha «tinha entrado» no livro. Passou-se o mesmo com o meu filho.
Embora não leccione Língua Portuguesa penso que todos tinham que dar a sua opinião sobre livros...
Vamos fazer uma Biblioteca de Turma e todas as semanas lemos... Livros que trazia de casa. Foi sem dúvida uma alegria que ninguém pode imaginar...
“Mexiam” nos livros, começaram a ter com o livro uma grande empatia, foi o que aconteceu com o «Menino»*.

Quem escreve está a utilizar
a palavra para chegar
ao que as palavras não conseguem dizer,
ao indizível.

Como nunca lá chegamos, continuamos a escrever...

Paula Cristóvão
Leitores, Leituras e Estratégias

Depois de termos discutido, em Oficina, muitas estratégias e o leitor, propusemo-nos a "ensaiar" uma estratégia de formação de leitores, a partir de um perfil de aluno ficcionado (fingimento=sinceridade?), que nos foi atribuído. Surgem, assim, algumas propostas, umas em jeito de diário, outras em forma de planificação. Ei-las, acabadinhas de escrevinhar...

06 julho 2007

PLANIFICAR UMA ESTRATÉGIA DE FORMAÇÃO DE LEITORES:

Perfil 5:
- Aluno com 14 anos;
- Sexo masculino;
- Adora bibliotecas;
- Acha que o cheiro dos livros é o melhor que há;
- É fluente, mas não lê.


Tipo(s) de texto(s): Livros que remetam para Como organizar uma Biblioteca.
Livros de temáticas várias.

Estratégias de leitura: Leitura silenciosa e em voz alta feita pelo aluno aos colegas.

Público-alvo: Colegas da turma, da mesma idade, do sexo masculino e feminino.

Actividades: O objectivo é transmitir ao aluno a ideia de biblioteca enquanto meio difusor de conhecimentos; os diversos tipos de bibliotecas (pública, escolar, especializada, universitária e nacional); os tipos de documentos (obras de referências; monografias e publicações periódicas) e a organização do espaço (selecção, registo, carimbagem, catalogação e classificação e arrumação dos livros).
A partir daqui, pedir ao aluno para ser o monitor de um pequeno grupo de colegas, constituído, no máximo, por quatro elementos, que elaborará um guião sobre esta matéria.
Posteriormente, o aluno terá de sugerir uma obra a cada um dos seus colegas. Este sentido de responsabilidade influenciará o próprio aluno a ler e promoverá o gosto pela leitura nos colegas da turma. Serão reservados dez minutos, semanalmente, para esta actividade.

Recursos materiais: Livros da Biblioteca de temáticas várias.

Recursos humanos: Professor, bibliotecário/a e colegas de turma.

Calendarização: Um período lectivo.

Resultados esperados: Promoção da leitura através da responsabilização deste aluno do sexo masculino, de 14 anos de idade, que adora bibliotecas, que acha que o cheiro a livros é o melhor que há, é fluente e, neste momento, já aprendeu a gostar de ler.

14 junho 2007

Ainda uma nova Receita...


Dose de amostra
As Lições dos Mestres , de George Steiner

«A necessidade de transmitir conhecimentos e competências, e o desejo de os adquirir, são constantes da natureza humana. Mestres e discípulos, ensino e aprendizagem, deverão continuar a existir enquanto existirem sociedades. A vida tal como a conhecemos não poderia passar sem eles. Contudo, há mudanças importantes em curso […] A computação, a teoria da informação e o acesso à mesma, a ubiquidade da Internet e da rede global, envolvem muito mais do que uma revolução tecnológica. Implicam transformações de consciência, de hábitos de percepção e de expressão […] O impacto sobre o processo de aprendizagem é já capital […] [Contudo] a aura carismática do professor inspirado, o romance da persona no acto pedagógico, perdurarão certamente […] a sede de conhecimento, a necessidade profunda de compreender, que estão inscritas no melhor dos homens e das mulheres. Tal como a vocação do professor. Não há ofício mais privilegiado.» (destaque meu).

Receitas de Leitura

Composição

“As Lições dos Mestres”, de George Steiner, reúne as conferências que este professor realizou na Universidade de Harvard, no ano lectivo de 2001/ 2002, sob o título sugestivo de “As Lições dos Mestres” (Gradiva, 2005; Lessons of the Masters, no original). Combina em doses exactas uma reflexão, cheia de referências, sobre a complexa relação entre mestres e discípulos desde a antiguidade até aos nossos dias.
Este livro combina três perigosíssimos princípios activos: «Despertar noutro ser humano poderes e sonhos além dos seus; induzir nos outros um amor por aquilo que amamos; fazer do seu presente interior o seu futuro: eis uma tripla aventura como nenhuma outra.»

Indicações

Este livro é em si mesmo uma lição magistral sobre a relação entre o feiticeiro e o aprendiz. É especialmente indicado para todos aqueles que enveredaram pelo ofício, privilegiado, de professor e que mesmo que tenham encontrado, como dizia Carlos Drummond de Andrade, “uma pedra no meio do caminho”, continuaram o seu trilho por acreditarem nessa relação pessoal, complexa, entre discípulo e mestre que é a do acto educativo.

Precauções

Este autor, pela escrita simples, mas apaixonada, pode criar dependência. Recomendamos que para mitigar este sintoma se desfrute a leitura de uma forma partilhada, de preferência com os colegas da profissão (os mais especiais). Esta última recomendação pode vir a ser muito benéfica.

Posologia

É conveniente dedicar todos os dias um pouquito a esta leitura. Pode ler-se no semáforo vermelho, no quarto à meia-luz ou noutros espaços, a qualquer hora e em qualquer posição.

Outras Apresentações

Todas as pessoas que leram este livro, e se deixaram seduzir, também se aconselha este:
- Do mesmo autor: Paixão Intacta.

13 junho 2007

Fernando Pessoa


Tornei minha alma exterior a mim

Fernando Pessoa, Poemas Dramáticos.
foto: minha

Aqui fica uma singela homenagem ao maior dos poetas portugueses, nascido em 13 de Junho de 1888.

07 junho 2007

(Re)lermo-nos...

"Ler é encontrar a vida através dos livros e, graças a eles, compreendê-la e vivê-la melhor."

André Maurois

31 maio 2007

Perfumes

- Seu filho está doido – disse ela, de noite na varanda, sem saber que eu estava escutando.
- Ele não larga os livros. Hoje ele estava os livros daquela estante que vai cair para cheirar.
- Que é que tem isso? É normal, eu também cheiro muito os livros daquela estante. São livros velhos, alguns têm um cheiro óptimo.

João Ubaldo Ribeiro, Um Brasileiro em Berlim, Editora Nova Fronteira


É normal, claro, que é normal. Apanho-me sozinha, numa livraria ou em casa e o cheirinho dos livros é como perfume para alma. Pelo cheiro se identificam: se são novos, ou mais vetustos, se acabaram de sair da gráfica ou estão encafuados num local recôndito, se foram à praia, assim cheirarão também, se estiveram ao sol, assim libertarão o odor das páginas secas. Os livros não são apenas letras, os livros são também cheiros e os cheiros são a memória de quem somos.
Leonor Barros

27 maio 2007

Novas receitas

Dose de amostra
"Era uma vez uma csas branca nas dunas, voltada para o mer. Tinha uma porta, sete janelas e uma varanda de madeira pintada de verde. Em roda da casa havia um jardim de areia onde cresciam lírios brancos e uma planta que dava flores brancas, amarelas e roxas.
Nessa casa morava um rapazito que passava os dias a brincar na praia.
Era uma praia muito grande e quase deserta onde havia rochedos maravilhosos. Mas durante a maré alta os rochedos estavam cobertos de água. Só se viam as ondas que vinham crescendo do longe até quebrarem na areia com um barulho de palmas."

Composição
A Menina do Mar é um pequeno conto escrito por Sophia Mello Breyner Andresen que se destina fundamentalmente a crianças e jovens. Não deixando, no entanto, de encantar qualquer tipo de leitor pelo ritmo e pela poesia que transmite.
Os variados recursos estilísticos utilizados nesta prosa poética transitem sensações de alegria e magia, suscitando a imaginação dos leitores para um mundo maravilhoso onde tudo é possível, a amizade, a lealdade e a coragem surgem como valores essenciais da relação entre as personagens.

Indicações
O movimento e a cor que nos são transmitidos por uma linguagem aparentemente simples suscitam o desenvolvimento da imaginação e da criatividade, do gosto pela leitura e pela escrita nos jovens, levando-os com frequência a imitarem o estilo nas suas composições.

Precauções
Este livro deverá ser lido em voz alta, sem o que parte do seu ritmo e do seu encanto se perderá.

Posologia
Deve ser lido todos os dias ao deitar para influenciar os sonhos e evitar os pesadelos das crianças.

Outras obras
Sophia de Mello Andresen tem outras obras igualmente poéticas e dirigidas especialmente para as crianças e jovens, embora eu ao ler estas obras me tenha sentido encantada e levada para um mundo distante.
Outras obras: A Fada Oriana, O Cavaleiro da Dinamarca, A Floresta e O Rapaz de Bronze.
Todas estas obras encantaram-me e de um modo geral encantaram os meus alunos.

Receita prescrita por Paula Cristóvão.

Dose de amostra
“Este devia ser um capítulo longo porque o começo do Inverno foi um tempo de sofrimento. Mas por que falar de coisas tristes, por que contar as maldades do Gato Malhado cujos olhos andavam escuros de tão pardos? Disso falavam as cartas enviadas pelos habitantes do parque, cartas que o Pombo-Correio levava a outros parques distantes. As notícias chegaram até o longínquo esconderijo da Cobra Cascavel e mesmo ela tremeu de medo. Diziam da maldade do Gato mas diziam também da sua solidão. Jamais o Gato Malhado voltara a dirigir a palavra a quem quer que fosse. Tão grande solidão chegou a comover a Rosa-Chá que confidenciou ao jasmineiro, seu recente amante:
- Coitado! Vive tão sozinho, não tem nada no mundo…”

Composição
O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá é um conto escrito por Jorge Amado, em 1948, como presente de aniversário para seu filho João Jorge, quando este completou um ano. Embora seja um livro tradicionalmente indicado para jovens, a sua ternura traz enormes benefícios, qualquer que seja a sua idade.
Conta-nos a história de amor entre dois seres quer física, quer psicologicamente opostos, o gato de mau feitio, rabugento, amigo de brigas e a Sinhá, andorinha de boas famílias e virtuosa. O gato modifica o seu comportamento, mas a união entre os dois não se concretiza, pois ela casa com o rouxinol e não se sabe o fim do pobre e abandonado gato que apenas vivia no seu mundo de recordações de doces momentos e lembranças alegres.

Indicações
Está indicado para todos os seres que acreditam no amor, mesmo entres seres diametralmente opostos.

Precauções
Depois de ler o livro deve-se falar dele com os nossos amigos, recomendá-lo, compartilhá-lo, pois esta partilha só traz benefícios. Não é recomendável guardá-lo só para si.

Posologia
É conveniente dedicar um bocado do nosso tempo à leitura. Dez, vinte, trinta minutos diários, preferencialmente à noite, quando tudo está mais calmo. Pode ler-se pouco a pouco ou de uma vez.
Se depois desta amostra quiser a dose completa, pode encontrar este conto na livraria ou na biblioteca.

Outras apresentações
As pessoas que leram esta história também gostaram de outras obras do mesmo autor como Gabriela, Cravo e Canela, Dona Flor e seus dois maridos, Teresa Batista cansada de guerra ou Capitães da Areia.

Receita prescrita por Graça Salavisa

25 maio 2007

Receita de Leitura


"O Cavaleiro da Armadura Enferrujada", de Robert Fisher


Dose da amostra

Ésquilo e Rebecca observaram o cavaleiro cair de joelhos, com lágrimas de gratidão escorrendo-lhe dos olhos. «Quase morri das lágrimas que não chorei», pensava. As lágrimas deslizavam pelo rosto, através da barba, até ao peito. E porque provinham do seu coração, eram extraordinariamente quentes e depressa derreteram o que restava da armadura.
O cavaleiro chorou de alegria. Não voltaria a colocar a armadura e cavalgar numa direcção qualquer. As pessoas não voltariam a ver o reflexo cintilante do aço, pensando estarem a ver o raiar do Sol a norte ou o ocaso a oriente.
Sorriu através das lágrimas, sem se dar conta de que uma luz nova, e radiante, emanava agora do seu ser e uma luz muito mais brilhante e mais bela do que a da sua armadura polida, uma vez resplandecente, como um ribeiro, cintilante como a Lua, ofuscante como o Sol.
Pois, em verdade, o cavaleiro era o ribeiro. Ele era a Lua. Ele era o Sol. Podia agora ser todas essas coisas ao mesmo tempo, e mais ainda, porque estava em uníssono com o universo.
Ele era amor.


Composição

“O Cavaleiro da Armadura Enferrujada”, de Robert Fisher é um daqueles raros livros que se encontram e se cruzam no nosso caminho, por sorte, duas ou três vezes na vida, que lemos e que têm o condão de nos modificar e de nos fazer encarar os outros e o mundo que nos rodeia de uma forma diferente.
É uma história de uma beleza invulgar, posso mesmo acrescentar, é um longo poema em prosa, de uma simplicidade comovente, feita de vocábulos simples, mas simultaneamente profundos, belos, expressivos e tão ricos que chegam ao mais profundo da nossa alma.
O Cavaleiro e a sua armadura somos nós, com as nossas limitações e barreiras, impostas por nós próprios e pelos outros. Somos nós que passamos ao lado das coisas belas e simples da vida sem as ver, ao lado dos amigos, dos colegas, dos nossos entes queridos sem os amar como merecem ser amados.
O Cavaleiro iniciou a sua viagem para se libertar da armadura que o incomodava, tal como nós o deveríamos fazer. Descobriu o silêncio, a verdade, a determinação, a magia e teve a coragem de chorar, de reconhecer o que estava errado na sua vida e de o modificar enquanto se purificava. Perdeu a armadura e passou a ser ele próprio, um ser cheio de amor, como todos nós deveríamos ser.
Como diz o nosso poeta “o sonho comanda a vida” e eu atrevo-me a acrescentar “…e o Amor também”.
Foi escrita por Robert Fisher em 1990, escritor com um currículo absolutamente notável, autor de programas de rádio e de TV, de guiões cinematográficos e de espectáculos para a Broadway. “O Cavaleiro da Armadura Enferrujada” foi o seu primeiro romance e consta do top dos livros mais inspiradores de sempre.

Indicações

“O Cavaleiro da Armadura Enferrujada” pela simplicidade das suas palavras, está indicado para crianças, jovens e adultos, é benéfico e constitui um ensinamento para todos os leitores qualquer que seja a sua idade. Está também indicado quando sofremos sem saber o que temos ou quando desejamos mais do que o simples quotidiano da nossa vida.

Precauções

Não deve ser lido só por nós, no silêncio do nosso cantinho acolhedor, mas sim compartilhado por todos aqueles que procuram a verdade, o conhecimento e o amor pelos outros e pelas coisas simples e tão bonitas da vida.
Não deve ser lido por quem não é sensível e não tem um espírito aberto ou por quem, por muito que faça, não consegue tirar a sua “armadura”, ou não se apercebe de que a tem colocada.

Posologia

Deve ser lido todos os dias. Não de doze em doze ou de oito em oito horas, mas sempre que sintamos que nos falta algo que nos anime, sem medo de sobredosagem, pois o amor é inócuo.

Outras Apresentações

Foi o primeiro romance de Robert Fisher nomeado quatro vezes para o prémio Humanidade, que escreveu também para a maior parte dos comediantes do nosso tempo e foi autor ou co-autor de mais de quatrocentos programas de rádio, de cerca de 1000 programas de TV, de diversos guiões cinematográficos e de numerosos espectáculos para a Broadway. Escreveu também cerca de vinte livros sobre telas educativos.
Aconselhamos também a leitura de outras obras suas como “O Gato que encontrou Deus”, “Jogos para Pensar”, “Valores para Pensar” e “O Cavaleiro silencioso e outros Relatos”.

(Receita de Leitura prescrita por Olga Macedo)

24 maio 2007

Receita de Leitura

Doses da amostra

“Quando a Primavera chegou, vestida de luz, de cores e de alegria, olorosa de perfumes sutis, desabrochando as flores e vestindo as árvores de roupagens verdes, o Gato Malhado estirou os braços e abriu os olhos pardos, olhos feios e maus. Feios e maus, na opinião geral.
(…) Sentia-se leve, gostaria de dizer palavras sem compromisso, de andar à toa, até mesmo de conversa com alguém. Procurou mais uma vez com os olhos pardos, mas não viu ninguém. Todos haviam fugido.
Não, todos não. No ramo de uma árvore a Andorinha Sinhá fitava o Gato Malhado e sorria-lhe. Somente ela não havia fugido. (…)
- Tu não fugiste com os outros?
- Eu? Fugir? Não tenho medo de ti, os outros são todos uns covardes… Tu não me podes alcançar, não tens asas para voar, és um gatarrão ainda mais tolo do que feio. E olha lá que és feio…
- Feio, eu? (…)
- Feiíssimo… - reafirmou lá de longe a Andorinha.
- Não acredito. Só uma criatura cega poderia me achar feio.
- Feio e convencido!
A conversa não continuou porque (…)”.

Jorge Amado, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: Uma História de Amor: Mem Martins, Publicações Europa - América , 1993


Composição
O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: Uma História de Amor obra–presente de aniversário de Jorge Amado, em que o princípio activo é o amor entre um Gato Malhado, tido como um ser feio, mau e egoísta, e uma bela, simpática e gentil Andorinha, chamada Sinhá, num parque das “profundas do passado quando os bichos falavam”. Uma história de um amor inaudito e impossível que a Manhã conta ao Tempo, depois de a ter escutado ao Vento, e que o narrador admite poder transmiti-la por a ter ouvido do “ilustre Sapo Cururu”. Portanto, uma narrativa de narrativas. Era uma vez…

Indicações
Uma leitura recomendada a quem aprecia uma fascinante viagem pelo mundo da fantasia e dos sentimentos, nobres e vis, e, sobretudo, a todos os que, tal como a sensata Coruja desta história, acreditam que é preciso nem que seja uma “revoluçãozinha” contra os preconceitos, a intolerância e a marginalização. Mas pode prescrever-se a quem já seja dotado da capacidade de ler!

Precauções
Não é recomendável o silêncio acerca do que se lê. Alivie este sintoma, partilhando as suas leituras com os seus amigos. Fale, murmure, critique, recomende.

Posologia
Pequena-grande obra que se pode ler de uma só vez. No entanto, se preferir, desfrute-a capítulo a capitulo, de acordo com a sua disponibilidade. Não se esqueça de apreciar a coloridas e belíssimas aguarelas de Carybé.
Se a dose-amostra lhe agradou, procure a dose completa numa biblioteca ou livraria.

Outras apresentações
Da vastíssima patente de Jorge Amado, sugere-se: Capitães da Areia e Dona Flor e Seus Dois Maridos, como forma de se impregnar do maravilhoso vício de conhecer este autor.


23 maio 2007

Receita de Leitura

Dose de Amostra

O telefone despertou-me numa fria manhã de Junho. Sentei-me na cama. A luz, lá fora, inerte e alheia, morria numa lenta gradação de cinzentos. Era triste como uma fotografia antiga. Naquela posição, sem precisar de mover a cabeça, sem precisar sequer de mover os olhos, eu via os barcos levitando na baía. Luanda em Junho pode ser uma cidade muito triste. Reconheci a voz, do outro lado, mas não me conseguia lembrar a quem pertencia.
- Aconteceu de novo...
- Quem fala?
O gritar das cigarras. Uma funda e escura alameda de acácias rubras. Fechei os olhos e voltei a ver os troncos cobertos pelas cascas das cigarras. Quando era criança achava que fossem fantasmas de cigarras. Não sabia ainda que as cigarras mudam de pele (ou de corpo) vezes sem conta. Fiz um esforço para afastar o sono. Preferia estender-me na cama e adormecer de novo. Tenho sonhos tristes. Às vezes choro enquanto durmo. Só choro, aliás, enquanto durmo. Todavia a luz, lá fora, era ainda mais triste do que as sombras dos meus sonhos mais tristes.

José Eduardo Agualusa (2006), Passageiros em Trânsito, Dom Quixote


Composição
Passageiros em Trânsito é composto por vinte e dois contos do escritor angolano José Eduardo Agualusa, anteriormente publicados na revista do Público e agora compilados num só volume. A composição recente data de 2006. A aventura, o fantástico e a inquietude de outras latitudes são os princípios activos de base, embora outros componentes presentes contenham a procura incessante de quem somos afinal nesta travessia e alguma nostalgia encerrada no verbo partir.

Indicações
Passageiros em Trânsito está particularmente indicado para quem gosta de viajar, sente o apelo da partida e tem curiosidade acerca de paragens distantes. Também indicado para quem aprecia uma boa prosa, simples e despretensiosa, mas carregada de significado e alguma mística que espreita aqui e ali.

Contra-indicações
Não deve ser lido por indivíduos com obsessão pela segurança do aconchego do lar, cheios de certezas, desprovidos de fantasia e com tendência para a aversão a relatos ficcionais e estórias com laivos de exotismo, algumas peripécias e palavras cheias de calor e cor. O carácter breve e conciso dos contos está contra-indicado nos amantes de romances longos e densos.

Precauções
Indivíduos sugestionáveis com tendência para imergirem nas personagens devem evitar a leitura de Passageiros em Trânsito. Podem ocorrer ataques ligeiros de ansiedade de partida e excitabilidade. Verificaram-se casos raros de taquicardia e alucinações. Caso os leitores sintam uma coceira no estômago, a curiosidade a crescer dentro de si ou a procura involuntária do passaporte ou da mala de viagem devem descontinuar a leitura imediatamente. Se os sintomas persistirem mude de leitura ou corre o risco de acordar no outro lado do Atlântico.

Posologia
Passageiros em Trânsito deve ser lido em doses pequenas, ao ritmo de um conto por dia para melhores resultados e fazer jus ao tempo diferente e ritmado das latitudes em que decorre a acção. Se se sentir tentado a rumar pela leitura dentro pode ler dois ou mais. Não são conhecidos efeitos de sobredosagem. É muito bem tolerado por indivíduos imaginativos e de alma errante.

Outras apresentações
Se se deu bem com a leitura de Passageiros em Trânsito deve continuar a ler mais livros do autor como um Estranho em Goa ou O Vendedor de Passados. Como complemento estão indicados outros relatos de viagens alicerçados na realidade de carácter não ficcional como Sul de Miguel Sousa Tavares. Recomenda-se a leitura de Mia Couto, com especial incidência no mais recente romance do escritor moçambicano O Outro Pé da Sereia.

22 maio 2007

Receita de Leitura


DOSE DE AMOSTRA:
“A televisão mais bonita do mundo”

“(...) Olhei o cinzento da televisão e umas três luzes apareceram de repente como se fossem um semáforo maluco e tive a certeza que aquela era mesmo a televisão mais bonita do mundo. Fez um ruído tipo um animal a respirar e acendeu devagarinho. Não consegui ficar calado e disse bem alto: «chéeeeeeee, essa televisão é bem esculú!», e todos riram do meu espanto assim sincero: era a primeira televisão a cores que eu via na minha vida.
A imagem apareceu bem nítida e cheia de cores. Era linda e eu nunca tinha reparado que um apresentador de televisão podia vestir uma roupa com tantas cores. Lembro-me ainda hoje: estava a dar o noticiário em língua nacional tchkwe. Ninguém entendia nada, baixaram o som. A tia Rosa disse-me «fecha a boca, vai entrar mosca», e todos riram outra vez. Não me importei.
(...) Fiquei com inveja dos filhos do Lima que todos dias iam ver cores naquela televisão a cores: a telenovela Bem-Amado com o Tito e o Piranha, os bonecos animados do Mitchi, o Gustavo com três fios de cabelo e até a pantera Cor-de-Rosa com o cigarro bem comprido. «Tudo a cores, como uma aguarela bem bonita», pensei, enquanto a tia Rosa me fazia festinhas na cabeça.”

Ondjaki – Os da minha rua. Lisboa: Caminho, 2007.

COMPOSIÇÃO:
Conjunto de pequenas histórias redigidas por um jovem escritor angolano, de edição “fresquinha” (Março de 2007). O princípio activo baseia-se na realidade, com as recordações da infância e adolescência que nos transportam a um tempo mágico. As situações mais cómicas entrecruzam-se com o lirismo, a inocência e o sentimento próprios dos primeiros ensaios da vivência de emoções. Actua rapidamente sobre a perda de memória.


INDICAÇÕES:
Esta obra é especialmente indicada a todos aqueles que desejam fazer um lifting emocional e relembrar que um dia já foram “mais” pequenos... e agiram em conformidade! Também recomendado aos “trintões”, contemporâneos do autor, pelo conjunto de referências comuns, com especial incidência na década de 80 (confronte-se com a dose de amostra) e, ainda, aos adolescentes do século XXI, pela identificação com a composição dos fármacos literários. “Mudam-se os tempos”, mas nem sempre se mudam as vontades!

PRECAUÇÕES:
Os mais velhos (os referidos trintões) não se devem centrar no revivalismo exagerado, pois correm o risco de desvalorizar outras fases do seu desenvolvimento, como a actual “pós-adolescência”. Experimentem, antes, partilhá-lo com a geração precedente.

POSOLOGIA:
Se estiver a gostar, leia só uma história cada dia, assim o prazer prolongar-se-á por 22 dias, com duas tomas extra: duas cartas em tom poético trocadas entre o autor e uma amiga. Não esquecer a ultiminha página, onde se esconde esta citação do poeta brasileiro Manoel de Barros: “Um livro o ensinou a não saber nada – agora já sabe.”

OUTRAS APRESENTAÇÕES:
Todas as outras obras do autor, com sabor a África (Angola), com incursões por diversos modos e géneros literários. Para os que sararam “feridas”, sugerimos um “genérico” de composição idêntica – Diário inventado de um menino já crescido, de José Fanha. A intertextualidade assenta na recordação, vista pelos olhos de um menino grande, com um comprimento de onda confessional semelhante ao do nosso autor.

Votos de rápidas melhoras!
Jack Duarte

21 maio 2007

Receita de leitura

Gosto de Ti. R.
Dose de amostra:
Era o romance que lhe emprestara. Só que… Outra vez um papel a espreitar por entre as páginas de um livro?! Bem, bilhetinho, desta vez, não era certamente. Tranquilamente, abri-o e… nem queria acreditar! Era outro bilhetinho quase igual ao anterior, só tinha a mais os quadradinhos que talvez faltassem no quebra-cabeças. Num entusiasmo, juntei-os aos outros. Parecia um passarinho… Fazia lembrar, fazia lembrar o canário que eu desenhara um dia para o Filipe, mas esse era o Carinho! Como era possível?! Seria que o quebra-cabeças quereria dizer: «Com carinho. R»? Afogueada, com o coração tonto de bater tanto e ainda sem acreditar… Além da minha mãe e do Filipe só o... (Excerto retirado de Gosto de Ti. R., de Graça Gonçalves, Edinter, Lisboa, 1992.)

Composição:
Gosto de Ti. R. é o título desta história de Graça Gonçalves, cuja intriga desde cedo nos prende e surpreende. Afinal, independentemente da idade, todos gostamos de ouvir «Gosto… gosto de… gosto de ti.»

Indicações:
Este livro é, sobretudo, indicado para jovens curiosos que, ante uma pergunta, um problema, um desafio, persistem na procura da solução. Contudo, Gosto de Ti. R. poderá também ser prescrito àqueles que gostem de escrevinhar em pequenos pedaços de papel (vulgo «bilhetinho»).

Precauções:
Sendo esta uma história em que se vive o desabrochar de diversas emoções, recomenda-se a partilha desta experiência de leitura com aqueles que lhe são mais próximos (amigos, familiares, etc.); a inexistência de partilha é extremamente prejudicial à saúde de qualquer leitor.

Posologia:
Recomenda-se, no mínimo, a leitura de dois capítulos por dia. No entanto, se tiver uma crise aguda de leitura, aconselha-se a leitura completa do livro o quanto antes (se sentir necessidade, pare de ler para comer e dormir). No verso deste folheto encontrará uma amostra de leitura, mas poderá ter acesso à dose completa numa livraria ou numa biblioteca perto de si.

Outras apresentações:
Se a leitura deste livro (ou da dose de amostra) foi agradável, também gostará dos seguintes títulos: Diário de Sofia & Companhia (aos 15 anos), de Luísa Ducla Soares e Diário Secreto de Camila, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada.

20 maio 2007

Receita de leitura

Ulisses

Dose de amostra:
Tão grandes foram essas suas aventuras e desventuras, que ele teve de as continuar vivendo dentro de si próprio, contente por assim ir navegando na grande e inesperada aventura de se sentir finalmente feliz. (MENÉRES, Maria Alberta, Ulisses, 32.ª edição, Edições Asa, 2006).

Composição:
Ulisses, da autoria de Maria Alberta Menéres, é especialmente indicado para jovens adolescentes que partilhem o espírito de aventura e façam deste o cerne das suas vidas. Quando alguém se sentir deprimido, inspire-se no herói das «mil façanhas», Ulisses, rei de Ítaca, adorado por todos. Neste sentido, este livro será uma receita, também, para os adultos, de forma a que, verdadeiramente, (re)conheçam o valor da vida e da luta pelos próprios ideais.

Indicações:
Quem deseja ansiosamente a felicidade terá de, a cada segundo que passa, lutar por ela, pois nunca se deve esperar que esta «nos bata à porta». Trata-se de uma viagem duradoira, mas talvez frutífera…

Precauções:

Não é recomendável aos leitores que sofram de ansiedade. É benéfico ler calmamente o livro até ao final e recomendá-lo a toda a família. Trata-se de uma leitura deliciosa que, aliada a espantosas ilustrações, será o remédio para alterar os estados de espírito mais depressivos.

Posologia:
É conveniente dedicar um fim-de-semana à leitura deste livro. Se se preferir, até porque se trata de um livro de leitura rápida, poder-se-á lê-lo de uma só vez. Encontrá-lo-á em qualquer livraria.

Outras apresentações:
As pessoas que lerem este livro certamente gostarão de outros da mesma autora: À Beira do Lago dos Encantos, O poeta faz-se aos 10 anos, Histórias de tempo vai tempo vem, Figuras figuronas, A chave verde ou os meus irmãos, Aventuras da Engrácia, O ouriço-cacheiro espreitou 3 vezes, entre outros.

17 maio 2007

Por receita

E eis que chegou mais uma quinta-feira, dia em que habitualmente tem lugar a nossa Oficina de Formação. Hoje, e porque cá em Mafra é feriado, ficámos sem o nosso espaço de partilha de ideias e livros, opiniões e saberes, mas não fiquem a pensar que nada fizemos. Na verdade, temos um trabalhinho de casa.
Numa das sessões passadas foi-nos dado a conhecer uma campanha da Extremadura, Espanha para a promoção da leitura. Consiste em disponibilizar em lugares inusitados, nomeadamente farmácias e hospitais, receitas de leitura com prescrição, advertências, e tudo o mais que habitualmente as bulas dos medicamentos contêm. Genial! Portanto, qual é o nosso trabalho de casa? Adivinharam! Toca a procurar um livro e prescrevê-lo! Quando e como tomar, quais as precauções, as doses diárias, para quem é indicado, existem contra-indicações? Eu já decidi qual o livro, entretanto, reli-o e agora só me falta mesmo arregaçar as mangas, ou devo dizer vestir a bata?, e receitá-lo. Vamos ver o que sai. Iremos dar notícias entretanto. Fiquem atentos! Ler é mesmo o melhor remédio.

04 maio 2007

Bookcrossing

E se os livros tivessem alma e vida própria, pertencessem a todos e a ninguém?
Pois bem, para os bookcrossers assim é. Ler e libertar são palavras chave. Este conceito americano tem como base um princípio fundamental para todas as vidas plenas: a partilha. E para saber mais, além de visitarem o site, aqui fica o testemunho de duas bookcrossers:

02 maio 2007

Leitura, Voz (em vós) e Santos...

Face à partilha de textos em voz alta que vamos iniciar, recordo as palavras de Santo Agostinho:
"Os textos só existem quando são ditos em voz alta."

Demos "luz" às palavras!

28 abril 2007

O porco

O porco. De há uns dias a esta parte, o porco não me sai da cabeça. Dou voltas e mais voltas e ele lá continua. Há lá direito que tenham feito aquilo ao porco? Coitado do Zeca, pobre do Ruca! Coitadito do Carnaval da Vitória… Está mal! Não me conformo. Acho mal. Fiquei triste. Discordo e protesto! E foi isto, porque derrubando-me avidamente sobre um livro numa noite desta semana, não consegui ir deitar-me sem ler a ultiminha frase. A meio do livro, comecei a ganhar um certo rancor a Diogo, uma raivinha em crescendo ao homem, e afecto pelo bicho. É sabido que os porcos são animais inteligentes, têm capacidades de aprendizagem semelhantes às de uma criança de três anos, exceptuando a linguagem, pois claro, são afáveis e doces e se alimentados convenientemente não se tornam em bácoros obesos e tão-pouco são imundos, portanto, a consequência natural das letras desenhadas naquele livro seriam previsíveis: primeiro o encanto, depois o afecto e agora a revolta. Por isso, continuo a protestar: acho MAL! No fundo, no fundo, acho mal, mas acho natural. De que servirão os livros, se não ficarem em nós? Foi isso que aconteceu. Ora leiam lá e digam-me se ficariam indiferentes…


O meu agradecimento à minha colega Fátima Santos que me deu a conhecer Quem me dera ser onda de Manuel Rui.

Leonor Barros©
Imagem: Rachel Deacon, "Pig"

Este texto pode ser lido aqui

27 abril 2007

A escrita e a leitura

Escreve-se e lê-se para compreender o mundo, ou por outra, não se escreve para se ser escritor, não se para se ser leitor. Também se dá o caso de à medida que aumenta o número de pessoas alfabetizadas, aumenta também o número de pessoas que não entendem o que lêem. Saber ler é, pois, saber ler a realidade, encontrar-se na disposição de estar, ou não, de acordo com ela. Saber ler é saber ler-se, construir-se, para que não nos construam a nós.

26 abril 2007

Ler é...

um gosto, um sorriso.
É sonhar.

24 abril 2007

Ler é...

passear a alma.

Ler é ...

Ler é sentir-me completamente acompanhada.
Paula Cristóvão

Ler é...

... viajar no tempo, quer passado quer futuro, sozinho ou acompanhado, como se quiser; viver aventuras, perder-se na calmaria, dependendo do nosso estado de espírito. (Olga)

Ler é...

... a coisa mais maravilhosa que há.
GRAÇA SALAVISA

Ler é...

... (re)viver!

23 abril 2007

Dia Mundial do Livro

O verbo ler não suporta o imperativo.
É uma aversão que compartilha com outros:
o verbo "amar"...
o verbo "sonhar"...

Daniel Pennac, Como um Romance, Asa.

22 abril 2007

Sítios de cabeceira

A importância das bibliotecas escolares está patente no facto de, a nível internacional, diversos países se terem reunido numa associação internacional - a International Association of School Librarianship (IASL). Refira-se que, pela primeira vez, em Julho de 2006 a 35ª Conferência Anual desta organização realizou-se em Lisboa, subordinada à temática: The multiple faces of literacy: Reading, knowing, doing.
Justifica-se uma visita!

http://www.iasl-slo.org






Por cá, o Programa da Rede de Bibliotecas Escolares, da responsabilidade do Ministério da Educação, celebrou dez anos. No seu sítio acedemos a inúmeras informações relevantes, como, por exemplo, documentos de referência, eventos, formação, materiais de apoio. A incluir nos favoritos:
http://www.rbe.min-edu.pt


P.S. Um agradecimento especial à Leonor Barros pela "arquitectura" deste blog e à Vera Lages pela sugestão do nome.

19 abril 2007

E para começar...


"Sempre imaginei que o paraíso seria uma espécie de Biblioteca."
Jorge Luís Borges


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