
DOSE DE AMOSTRA:
“A televisão mais bonita do mundo”
“(...) Olhei o cinzento da televisão e umas três luzes apareceram de repente como se fossem um semáforo maluco e tive a certeza que aquela era mesmo a televisão mais bonita do mundo. Fez um ruído tipo um animal a respirar e acendeu devagarinho. Não consegui ficar calado e disse bem alto: «chéeeeeeee, essa televisão é bem esculú!», e todos riram do meu espanto assim sincero: era a primeira televisão a cores que eu via na minha vida.
A imagem apareceu bem nítida e cheia de cores. Era linda e eu nunca tinha reparado que um apresentador de televisão podia vestir uma roupa com tantas cores. Lembro-me ainda hoje: estava a dar o noticiário em língua nacional tchkwe. Ninguém entendia nada, baixaram o som. A tia Rosa disse-me «fecha a boca, vai entrar mosca», e todos riram outra vez. Não me importei.
(...) Fiquei com inveja dos filhos do Lima que todos dias iam ver cores naquela televisão a cores: a telenovela Bem-Amado com o Tito e o Piranha, os bonecos animados do Mitchi, o Gustavo com três fios de cabelo e até a pantera Cor-de-Rosa com o cigarro bem comprido. «Tudo a cores, como uma aguarela bem bonita», pensei, enquanto a tia Rosa me fazia festinhas na cabeça.”
Ondjaki – Os da minha rua. Lisboa: Caminho, 2007.
COMPOSIÇÃO:
Conjunto de pequenas histórias redigidas por um jovem escritor angolano, de edição “fresquinha” (Março de 2007). O princípio activo baseia-se na realidade, com as recordações da infância e adolescência que nos transportam a um tempo mágico. As situações mais cómicas entrecruzam-se com o lirismo, a inocência e o sentimento próprios dos primeiros ensaios da vivência de emoções. Actua rapidamente sobre a perda de memória.
INDICAÇÕES:
Esta obra é especialmente indicada a todos aqueles que desejam fazer um lifting emocional e relembrar que um dia já foram “mais” pequenos... e agiram em conformidade! Também recomendado aos “trintões”, contemporâneos do autor, pelo conjunto de referências comuns, com especial incidência na década de 80 (confronte-se com a dose de amostra) e, ainda, aos adolescentes do século XXI, pela identificação com a composição dos fármacos literários. “Mudam-se os tempos”, mas nem sempre se mudam as vontades!
PRECAUÇÕES:
Os mais velhos (os referidos trintões) não se devem centrar no revivalismo exagerado, pois correm o risco de desvalorizar outras fases do seu desenvolvimento, como a actual “pós-adolescência”. Experimentem, antes, partilhá-lo com a geração precedente.
POSOLOGIA:
Se estiver a gostar, leia só uma história cada dia, assim o prazer prolongar-se-á por 22 dias, com duas tomas extra: duas cartas em tom poético trocadas entre o autor e uma amiga. Não esquecer a ultiminha página, onde se esconde esta citação do poeta brasileiro Manoel de Barros: “Um livro o ensinou a não saber nada – agora já sabe.”
OUTRAS APRESENTAÇÕES:
Todas as outras obras do autor, com sabor a África (Angola), com incursões por diversos modos e géneros literários. Para os que sararam “feridas”, sugerimos um “genérico” de composição idêntica – Diário inventado de um menino já crescido, de José Fanha. A intertextualidade assenta na recordação, vista pelos olhos de um menino grande, com um comprimento de onda confessional semelhante ao do nosso autor.
Votos de rápidas melhoras!
Jack Duarte
“A televisão mais bonita do mundo”
“(...) Olhei o cinzento da televisão e umas três luzes apareceram de repente como se fossem um semáforo maluco e tive a certeza que aquela era mesmo a televisão mais bonita do mundo. Fez um ruído tipo um animal a respirar e acendeu devagarinho. Não consegui ficar calado e disse bem alto: «chéeeeeeee, essa televisão é bem esculú!», e todos riram do meu espanto assim sincero: era a primeira televisão a cores que eu via na minha vida.
A imagem apareceu bem nítida e cheia de cores. Era linda e eu nunca tinha reparado que um apresentador de televisão podia vestir uma roupa com tantas cores. Lembro-me ainda hoje: estava a dar o noticiário em língua nacional tchkwe. Ninguém entendia nada, baixaram o som. A tia Rosa disse-me «fecha a boca, vai entrar mosca», e todos riram outra vez. Não me importei.
(...) Fiquei com inveja dos filhos do Lima que todos dias iam ver cores naquela televisão a cores: a telenovela Bem-Amado com o Tito e o Piranha, os bonecos animados do Mitchi, o Gustavo com três fios de cabelo e até a pantera Cor-de-Rosa com o cigarro bem comprido. «Tudo a cores, como uma aguarela bem bonita», pensei, enquanto a tia Rosa me fazia festinhas na cabeça.”
Ondjaki – Os da minha rua. Lisboa: Caminho, 2007.
COMPOSIÇÃO:
Conjunto de pequenas histórias redigidas por um jovem escritor angolano, de edição “fresquinha” (Março de 2007). O princípio activo baseia-se na realidade, com as recordações da infância e adolescência que nos transportam a um tempo mágico. As situações mais cómicas entrecruzam-se com o lirismo, a inocência e o sentimento próprios dos primeiros ensaios da vivência de emoções. Actua rapidamente sobre a perda de memória.
INDICAÇÕES:
Esta obra é especialmente indicada a todos aqueles que desejam fazer um lifting emocional e relembrar que um dia já foram “mais” pequenos... e agiram em conformidade! Também recomendado aos “trintões”, contemporâneos do autor, pelo conjunto de referências comuns, com especial incidência na década de 80 (confronte-se com a dose de amostra) e, ainda, aos adolescentes do século XXI, pela identificação com a composição dos fármacos literários. “Mudam-se os tempos”, mas nem sempre se mudam as vontades!
PRECAUÇÕES:
Os mais velhos (os referidos trintões) não se devem centrar no revivalismo exagerado, pois correm o risco de desvalorizar outras fases do seu desenvolvimento, como a actual “pós-adolescência”. Experimentem, antes, partilhá-lo com a geração precedente.
POSOLOGIA:
Se estiver a gostar, leia só uma história cada dia, assim o prazer prolongar-se-á por 22 dias, com duas tomas extra: duas cartas em tom poético trocadas entre o autor e uma amiga. Não esquecer a ultiminha página, onde se esconde esta citação do poeta brasileiro Manoel de Barros: “Um livro o ensinou a não saber nada – agora já sabe.”
OUTRAS APRESENTAÇÕES:
Todas as outras obras do autor, com sabor a África (Angola), com incursões por diversos modos e géneros literários. Para os que sararam “feridas”, sugerimos um “genérico” de composição idêntica – Diário inventado de um menino já crescido, de José Fanha. A intertextualidade assenta na recordação, vista pelos olhos de um menino grande, com um comprimento de onda confessional semelhante ao do nosso autor.
Votos de rápidas melhoras!
Jack Duarte
1 comentário:
Esta leitura fez-me muito bem à alma e teve um efeito retemperador sobre o stress do quotidiano. Recomendo! :D
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