31 maio 2007

Perfumes

- Seu filho está doido – disse ela, de noite na varanda, sem saber que eu estava escutando.
- Ele não larga os livros. Hoje ele estava os livros daquela estante que vai cair para cheirar.
- Que é que tem isso? É normal, eu também cheiro muito os livros daquela estante. São livros velhos, alguns têm um cheiro óptimo.

João Ubaldo Ribeiro, Um Brasileiro em Berlim, Editora Nova Fronteira


É normal, claro, que é normal. Apanho-me sozinha, numa livraria ou em casa e o cheirinho dos livros é como perfume para alma. Pelo cheiro se identificam: se são novos, ou mais vetustos, se acabaram de sair da gráfica ou estão encafuados num local recôndito, se foram à praia, assim cheirarão também, se estiveram ao sol, assim libertarão o odor das páginas secas. Os livros não são apenas letras, os livros são também cheiros e os cheiros são a memória de quem somos.
Leonor Barros

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu adoro o cheiro daqueles livros antigos (anos 50 e 60) que se faziam num papel amarelado e que agora inalam um cheiro característico, tenho alguns desses na minha estante. Eu, de vez em quando, abro-os e inalo o seu odor como um perfume de beleza.

LeonorBarros disse...

E eu o dos novos, Fernando :-)
Mas claro que tenho um enorme carinho, para não dizer amor, pelos antigos. Trazem consigo uma vida de memórias.