13 julho 2007

Desafios

O que é isto?


Assinale a resposta correcta:

*um autocarro
*uma caminoneta
*um monumento
*uma carreira do Sardinha
*nenhum dos anteriores

foto: minha

11 julho 2007

Despedidas...

Também para nós a história chegou ao fim... Da nossa parte foi um prazer trabalhar com este grupo de "missionários" da leitura! Desejamos que, agora, daqui a dois meses, no próximo ano, em algum momento, o que aqui trouxemos vos seja útil, vos ajude a (re)ler práticas pedagógicas.

A finalizar, deixamos os votos de que o futuro vos traga "boas leituras"!

Cristina Cruz e Jacqueline Duarte

P.S. Hoje, oficialmente, a oficina de formação "A Biblioteca Escolar e as Literacias do Século XXI" encerrou. At last, but not least , as 50 horas esgotaram-se, mas a "morada virtual" permanece. A porta fica aberta para visitas, "releituras" e novas mensagens. Até sempre!

Vitória, vitória, acabou-se a história...

Já? Pena, pois haveria muito mais a ser explicitado e referido pelas colegas de trabalho sobre as experiências pessoais da docência.
Já? Pena, pois mais informação talvez poderia ser disponibilizada pelas colegas-formadoras.
Já? Boa, pois foram muitas horas laboriosas.

Fernando Justo

Em cada fim um início

Vitória, vitória, acabou-se a história...

Depois destes meses de trabalho e glória
De muito saber, partilha e leitura
Debandamos daqui para nova aventura

Mas para que não se mate a memória
E se esqueçam momentos de prazer e candura
Voltaremos para contar nova história

Vitória, vitória, acabou-se a história...

Ah! Que susto! Afinal só se acabou a história com “h” minúsculo, resta-nos ainda, ou para sempre, a História do e com “H” maiúsculo, onde poderemos continuar esta profícua e maravilhosa história, reescrevê-la, aperfeiçoá-la e recontá-la…
Do acontecer desta história, guardo sobretudo o que aprendi com as experiências de todos, formadoras e formandos. Bem-haja.
E o meu repto é o de que continuemos, rumo à vitória, as histórias da História!

Vítória, vitória, acabou-se a história...

Vitória, vitória, acabou-se a história?!
Hum... Não creio. Perdoem a "ousadia", mas, após tantas e tão trabalhosas horas de formação, não queremos, certamente, ficar por aqui. Continuemos a história, aqui ou na rua, na escola ou em casa (na minha ou na tua?). E todos têm tanto para partilhar...
Vitória, vitória, continuemos a história!

Vitória, vitória, acabou-se a história...

de uma viagem de aprendizagem.

Lemos,
Escrevemos,
Pensámos,
dialogámos,
Rimos,
Biblioteclámos.

Todos juntos, chegámos.

Com algo de novo na bagagem,
nova partida, nova viagem.

O longe ficará mais perto,
na caminhada que para muitos é deserto.

Mas eu daqui me vou
com um horizonte mais aberto.

Vitória, vitória, acabou-se a história...

Vitória, vitória, acabou-se a história,
ou será que começou?
Sim, sem dúvida, começou
porque muito aprendemos,
muito mais aplicaremos,
afinal, nada findou!

Bom trabalho!
Auto-Retrato

Eu Cristina Mulher Calma Alegre Forte Olhos brilhantes Lábios carnudos Mãos frágeis Tronco roliço Mente curiosa Interesse desperto Leitura DeVidas Ávida DeVida Assim sou

Da vida um momento

Olhos cor de azeitona
Cabelos leva-os o vento
Entre papéis e os livros
Baixinho sempre o lamento

Dias de sol são glória
O Inverno um tormento
Prevalece a memória
Da vida faz um momento.

Retrato(s)

Passa o Tempo,
Muda-se o meu retrato...
E vejam lá
Que eu nada faço!

Auto-Retrato


Pequenina, dizem que sou.
De olhos castanhos e pele morena.
Sorriso aberto
Porque a vida vale a pena.

Tagarela, dizem que sou.
Falo muito e com toda a gente.
Mas, cuidado!
Há que fazê-lo sorrateiramente...

Auto-Retrato


Cara oval, nariz de palhaço,
Por vezes um excesso de sorriso
Que provoca embaraço.

As mãos grandes
Cabelo desalinhado
A altura faz ficar
O mundo vigiado!

Auto-retrato

Euzinha
Nasci em 1979.
Sou professora de Língua Portuguesa do Ensino Básico.
Já tive alguma experiência em formação para adultos, mas o que gosto mesmo é de trabalhar com crianças.

Eu
Nasci em Fevereiro de 1979, na cidade de Coimbra. Conclui o curso na Universidade de Lisboa e leccionei o primeiro ano no Barreiro, o que não foi tarefa fácil. No entanto, como diz o velho ditado, “Quem corre por gosto não cansa!”
Sou solteira. Resido em Leiria, mas a paixão pelo ensino encarregou-se de me levar até uma terra chamada Venda do Pinheiro, onde resido actualmente.


Euzona
É sempre agradável falarmos das nossas recordações.
Nasci a vinte de Fevereiro da graça de 1979, um mês muito frio. Ao contrário deste frio mês, foi imenso o calor com que fui recebida no seio da minha família. Pai, mãe, irmã e euzona…posso dizer que tive uma infância feliz.
Quando era pequena já escrevia algumas linhas que, para mim, faziam todo o sentido. Não me importava com o que as outras pessoas pensavam.
Sempre gostei de escrever… ainda me lembro dos tempos de adolescente quando redigia nas páginas do meu diário tudo o que via, ouvia e sentia a cada dia da minha vida.
O tempo foi passando e, na verdade, cada vez gosto mais de escrever. Cada texto que redijo, em prosa ou poesia, quando estou sozinha, é o espelho da minha alma que tenta, sempre, afastar as tristezas através da escrita. Afinal, para mim, escrever significa alegria! E porque a vida deve ser vivida, sempre, de forma alegre, mesmo com todas as vicissitudes por que passamos… jamais deixarei de escrever…
Assim sou Euzona…

Autobiografemo-nos

Preparem-se para grandes revelações! É que a nossa colega Vânia lançou-nos o repto de nos autobiografarmos, a propósito de um belíssimo texto da Cecília Meireles. Leiam o texto mas aguardem a nossa veia artística, quem sabe não estarão escondidas Cecílias Meireles nest@s singel@s professor@s...


Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Cecília Meireles

PLANIFICAR UMA ESTRATÉGIA DE FORMAÇÃO DE LEITORES

Perfil 2:
- Aluna com 13 anos (sexo feminino);
- Gosta de aventuras e interessa-se por problemas sociais;
- É leitora, mas tem um aproveitamento escolar negativo

Confrontada com este perfil de aluno, lembrei-me, desde logo, da Joana, aluna que estava a repetir o sétimo ano e que integrava uma turma de dezanove alunos, dos quais doze eram repetentes, que tinham, pelo menos, mais uma retenção no 1º Ciclo ou no 2º Ciclo. Além disso, e mercê de uma situação familiar complicada, era acompanhada pelo Comissão de Protecção de Crianças e Jovens.
No entanto, convém, referir que, na primeira aula do início do ano lectivo, quando falei com os alunos desta turma acerca dos seus interesses e expectativas, todos me disseram que pretendiam trabalhar e empenhar-se para passar de ano, ainda que, maioritariamente, tenham dito que para já perspectivavam concluir o nono ano e depois logo se via, talvez frequentar um curso profissional.
É também de acrescentar que apontavam como grande causa do seu insucesso escolar a falta de hábitos de trabalho e de estudo, mas colaboravam de forma satisfatória nas actividades propostas em aula.
Assim, e após esta breve introdução, o trabalho que a seguir se apresenta baseia-se na convicção de que é possível melhorar o aproveitamento da Joana, e consequentemente o seu sucesso escolar, tentando “rentabilizar” o facto de ser leitora e se encontrar empenhada socialmente. Então:



Tipo (s) de texto (s): Livros de temáticas diversificadas; Histórias tradicionais.


Estratégias de leitura: Projecto individual de leitura; leitura silenciosa; leitura em voz alta ou dialogada feita pela aluna, individualmente ou em grupo, após preparação.


Público-alvo: Colegas da turma e, eventualmente, de outras turmas da escola do sétimo, da mesma idade, do sexo masculino e feminino ou ainda do ensino pré-primário ou do 1º ciclo de escolas do agrupamento.


Recursos materiais: Livros da aluna ou da biblioteca (escolar ou municipal); histórias tradicionais recolhidas pela aluna ou propostas pela professora da disciplina de Língua Portuguesa.
Recursos humanos: Professores de Língua Portuguesa e de Estudo Acompanhado; bibliotecários, colegas de turma e colegas de escola do mesmo nível de ensino ou do pré-primário/1º Ciclo.



Calendarização: 1º período.


Actividades: Nas aulas inicias, é proposta a construção de um projecto individual de leitura ao desenvolver ao longo do ano lectivo. Para tal, neste primeiro período, é necessário respeitar o seguinte: ler um livro escolhido pelo aluno e apresentar uma resposta de leitura à obra lida – ficha de leitura, a apresentar oralmente à turma e por escrito à professora, em data a definir.
Para ajudar na selecção da obra a ler, apresentar-se-á uma listas de livros de temas diversificados e de acordo com o recomendando para este nível de ensino e levar-se-ão os alunos à biblioteca (escolar ou municipal) proporcionando-lhe uma escolha consciente. A partir daí, os alunos iniciam a leitura silenciosa do livro escolhido, utilizando momentos da aula de Estudo Acompanhado. Terminada a leitura, farão a respectivas respostas de leitura com recurso às novas tecnologias de informação.
No âmbito do estudo das histórias tradicionais, será pedido um trabalho individual ou de grupo de leitura dramatizada (ou mesmo de reconto oral); após preparação e se possível em trabalho multidisplinar( Estudo Acompanhado; Música…), a apresentar aos colegas da turma e, eventualmente, de outras turmas da escola do sétimo, da mesma idade, do sexo masculino e feminino ou ainda do ensino pré-primário ou do 1º ciclo de escolas do agrupamento.



Resultados esperados: Promover/alimentar o gosto pela leitura, incentivar diferentes práticas de leitura e desenvolver o sentido de responsabilidade levando a Joana a conseguir um aproveitamento escolar positivo no final do primeiro período.

10 julho 2007

As partidas de Mercúrio

Planificar uma estratégia de formação de leitores

Perfil 6

*Aluna com dezassete anos (sexo feminino)
*Pouco vocabulário
*A “Internet é o que está a dar…”
*A leitura não é coisa que esteja na moda

As partidas de Mercúrio

Um burburinho constante vindo daquele lado da sala. Não que fosse muito estridente ou sequer perturbador. Indiciava porém alguma impaciência. Com o decorrer do tempo e depois de algumas chamadas de atenção, e também porque partilhávamos o mesmo espaço à mesma hora, fui-me apercebendo de onde vinha a inquietude.
Uma rapariga, não recém-chegada à escola pelo aparente à-vontade com que se deslocava, as calças sempre um palmo abaixo da linha de cintura, amiúde visíveis as réstias de roupa interior, o cabelo ora pelos ombros, ora apanhado e sempre, mas sempre, alguma inquietação e ansiedade na procura do computador disponível que lhe permitisse navegar por esse mundo fora. A impaciência frente a frente com o ecrã era presença habitual nas suas estadias no Centro de Recursos. Inicialmente identifiquei-me com a rapariga Caramba! Tamanha lentidão! Dá para adormecer aqui! Com a passagem do tempo e mesmo em dias em que a net voava pelas auto-estradas virtuais do espaço cibernético, a impaciência da jovem mulher em botão não debandava. O coração, o coração talvez, pensei, que o coração é um bicho matreiro e prega partidas aos prevenidos, quanto mais aos ainda jovens, carecidos de escudo afectivo contra as malvadezas do dito. E como também o coração tem os seus limites, cedo arrumei na estante a hipótese das partidas do órgão sentidor. Não, o coração não era.
Certo dia, quando estava com uma aluna minha, a rapariga voltou aos acessos de intemperança. A amiga a seu lado sorriu e sorriu-me e, dado o à-vontade, perguntou que raio significava aquela palavra. Respondi. A outra suspirou de alívio. Dias e dias à volta com a palavra mas nada de se figurar um sentido, um significado que fosse.
Abeirei-me delas. A rapariga, nos seus dezassete anos, sabia-o agora, tinha dificuldades hercúleas em decifrar vocábulos que lhe apareciam vezes sem conta no ecrã à sua frente. Entabulámos conversa, tocou para a entrada entretanto e cada uma foi à sua vida. Na semana seguinte o mesmo problema e o meu auxílio foi solicitado como tábua de salvação. E se eu não estivesse aqui? A rapariga respondeu Mas está e retorqui E se estivesses em casa sozinha? A rapariga encolheu os ombros, desta vez, resignada com a incapacidade de processar a informação que corria lampeira e sem vergonha no ecrã à sua frente.
Uma ocasião, questionou-me A Setora anda sempre com livros? Quase sempre. Porquê? A rapariga foi lesta na resposta Odeio ler! Como odeias ler? Passas a vida a ler aí no computador! Sim, retorquiu, Mas é diferente. A Setora já viu o camalhaço que são Os Maias? Não só vi, como li, respondi-lhe. Que cena! Disse-me. Aproveitei a deixa Então, mas o teu problema é o tamanho do livro? Até é, não tenho tempo de ler aquilo. Procurei o O nas estantes da literatura lusófona e estendi-lhe Os da minha rua do Ondjaki. Assim está melhor? Ela riu-se Mas isso presta? Tão fininho? Ri-me. Na adolescência raramente nos satisfazemos com algo. Leva e lê.
Para a semana falamos.
Na semana seguinte a rapariga não apareceu. Tinha sido acometida de um catarro forte que a obrigara à reclusão do lar, a acrescer a isto, o Mercúrio estava retrógrado e, portanto, o computador de casa finou-se com um chiar fininho para nunca mais dar conta de si. É sabido que o Mercúrio é um péssimo conselheiro de todas as maquinarias, engenhocas e aparelhagens eléctricas e electrónicas.
Quando regressou, estendeu-me o livro Já li! E então? Questionei É muita louco! Quem é este Ondjaki? Aconselhei Vais à net e fazes uma pesquisa. Ah mas esta malta dos livros não está na net. A Net é muito à frente!!!! disse convicta. Deixei-a sossegada e esperei pela semana seguinte. Veio ter comigo Eh, ganda cena, setora! Já sei quem é o Ondjaki! Boa! respondi. Afinal, estava ou não estava na net? Regressei ao trabalho e perto do toque a rapariga veio ter comigo.
Setora? Sim! Há mais livros destes?

Leonor Barros

09 julho 2007

Planificar uma Estratégia de Leitores

Perfil de leitor:
· Aluno de 16 anos
· Sexo masculino
· Adora bibliotecas (e livros)
· Fluente na leitura
· Não lê …
· Cheiro de livros ‘ é o melhor que há ‘

Pretendo usar-me de uma pessoa do sexo masculino, com 16 anos, adolescente, aluno meu, no 11º ano de secundário, que adora ler, sobretudo o que se refere a Literatura, portuguesa geral e actual, e a Filosofia, embora esteja matriculado na área de cientifico-naturais, apesar de ler pouco de literatura portuguesa do século XVI, matéria deste seu ano de escolaridade, bem como de literatura castelhana do mesmo século, igualmente importante para conhecimento desta arte, e de ter-me aparecido um dia nas aulas com uma obra muito volumosa, cuja língua desconhecia, mas que lhe parecia ser interessante.
Descobri que essa obra era ‘ Don Quixote ‘ de Cervantes e escrito no seu original castelhano.
Como sempre achei, e talvez por nunca me ter acontecido como aluno de complementar na década de 70 do século passado, que a literatura geral portuguesa de seiscentos deveria vir sempre acompanhada de outra próxima da mesma época, principalmente, a castelhana, e pela última razão descrita antes, considerei interessante pretender realizar este trabalho de Acção de Formação.

Em nota breve inicial, pretendo introduzir uma resumida biografia do autor literário que desejo que o aluno-pessoa alvo desta actividade possua-investigue para iniciar a leitura de suas obras:
MIGUEL de CERVANTES SAAVEDRA nasceu em Alcalá de Henares, em 1547 e morreu em Madrid, em 1616. Escreveu várias obras, sendo a mais conhecida, em romance de cavalheirismo, Don Quixote de la Mancha, quando se encontrava preso em Sevilha, entre 1577 e 1602 e em 1615. Outras obras são as Doce Novelas Ejemplares, Galatea, Rinconete y Cortadillo, Colóquio de los Perros (novelas cómicas), Viaje del/al Parnaso (poesia), Ocho Comedias y Ocho Entrementes Nuevos (comédia), Política de Diós y obierno de Cristo, Conservación de Monarquias (política), La Numantia (drama bélico), todas escritas entre 1518 e 1616, havendo algumas postumamente saídas a público.

Fernando Justo

08 julho 2007


Planificar uma Estratégia de Formação de Leitores

Perfil 1
. aluno com 11 anos
. sexo masculino
. gosta de futebol, aventuras
. tem uma leitura fluente, mas não lê

O menino que não gostava de ler

“Pelo sonho é que vamos...” como diz o poeta e é sempre bom sonhar-se que, de qualquer modo, conseguimos levar alguém a gostar de ler um livro mesmo que pequeno; a gostar de sentir prazer ao folhear um livro; a gostar de apreciar o cheirinho bom das folhas de um livro quer já antigo quer acabadinho de ser impresso, cheiinho de letras, de palavras, de frases que nos acariciem a alma.
Neste meu trabalho, permito-me sonhar que levo o meu rapaz, o Gonçalo, a gostar de ler.
Poderia ser o meu filho, de nome Gonçalo também.
Mas não. É um aluno meu, de onze anos ladinos, irrequietos, engraçados, cabelo ruivo e cheio de gel, inúmeras sardas a pintalgarem-lhe o rosto meigo, sorriso de orelha a orelha, sempre o primeiro a levantar a mão para ler.
E que bem que lê! Fluentemente, diria eu. Vozita clara, fresca, como tudo nele. Adora futebol. É do Benfica. “Como o meu avô, o meu pai e o meu mano Pedro.” – diz ele, todo feliz, quando me mostra o seu cartão de sócio, cheio de orgulho. O seu ídolo é o Nuno Gomes. Tem na sua estante do quarto, cheio de Sol, a biografia dele mas ainda não a leu até ao fim. Talvez vá em metade... “Não gosto de ler!” – diz, olhando-me com um misto de pena e atrevimento. Não é para me provocar bem sei. Não gosta mesmo! “Gosto é de aventuras!” – acrescenta. “Se eu fosse o Super-Homem...”. E a sua vozita faz-se ouvir, no meio do burburinho dos colegas de turma, que sorriem, habituados às suas peripécias do dia-a-dia.
Olho-o e sorrio. Vejo nele o meu filho mais novo e quero ajudá-lo a descobrir que os livros, além das crianças, são o melhor do mundo.
O ano lectivo começou há um mês e proponho-me levar o Gonçalo a gostar de ler até ao final deste ano. Quando o terceiro período chegar ao fim, o meu Gonçalo sardento irá querer levar para a praia ou para a piscina, a sua bola vermelha e branca, os óculos de sol, o MP3 e, no fundo da mochila encarnada, junto ao lanche, um livro de aventuras ou talvez de poemas. (Posso sonhar, não é?). Debaixo do chapéu-de-sol, cansado de nadar e de se exibir a saltar da prancha para as águas azuis da piscina do Parque Desportivo, vai pegar no seu livro e ler. A sua manhã foi uma verdadeira aventura. Até a sua colega loirinha, a Anita de doces olhos azuis e por que o seu coração bate com mais força, olhou tanto para ele!
A grande questão é: “Como levar o meu Gonçalo a ler?”. Pensei, pensei e acho que cheguei a uma conclusão. Talvez dê certo! Quem sabe? Se não resultar, experimento outra estratégia. O importante é tentar, tentar sempre e nunca desistir. Um professor não pode desistir por mais difícil que a tarefa lhe pareça. E que complicada esta é!
Antes de elaborar o meu plano de aula, dirigi-me à biblioteca da minha escola. É um espaço óptimo, soalheiro, agradável, cheio de pessoas simpáticas, dispostas a ajudar.
Não tenho só um Gonçalo no 6.º ano, turma A, mas seis ou sete. E é neles que penso, neste momento, ao falar com a Dona Amélia que me indica livros sobre futebol, assunto que não domino minimamente.
“Comecemos pelos mais acessíveis, professora Olga” – diz ela – “Temos aqui Pedro, o Fura Redes, de Fernando Correia, da Alêtheia Editores. Depois talvez o livro Tensão no Euro 2004, de António Avelar de Pinho e Pedro de Freitas Branco, da Editorial Presença e, por fim, a colecção Objectivo Golo, de Nuno Magalhães Guedes, da Verbo. Que lhe parece, professora?”.
Estou espantada. Não sabia que a nossa biblioteca estava tão bem apetrechada.
“Óptimo, dona Amélia.” – respondo eu.
“Não se esqueça que ele pode sempre consultar sites na internet com biografias e entrevistas aos seus futebolistas preferidos.” – acrescenta a dona Amélia.
“Grande ideia! E quanto a aventuras, o que me aconselha?” – pergunto eu.
Percorremos os corredores cheios de livros arrumadinhos, certinhos, colocados no sítio certo, à espera de serem requisitados e transformados em companhia, em amigos. Iniciámos a viagem pelos mais fáceis como Chiu! Que estou a ler!, de Maria da Conceição Coelho, da Europa América, passando pelos 1001 Detectives, da Editora Caminho, escrito pelo Carlos Correia e pela Maria Alberta Menéres e acabámos no Bando dos 4, de João Aguiar, publicado pela Editora Asa.
Munida desta informação preciosa, regressei a casa e preparei a aula para o dia seguinte. Aproveitando para leccionar o conteúdo programático da entrevista, entreguei à turma do meu Gonçalo, um guião de entrevista, que ajudasse os meus alunos nas questões que poderiam colocar, em trabalho de par, aos seus heróis ou ídolos preferidos e lhes ensinasse a técnica da entrevista.
Quem seria o ídolo ou o herói escolhido pelo Gonçalo e pela Joana? A quem iriam colocar questões? E que questões essas? Confesso que estava curiosa.
Depois do trabalho feito, os diferentes pares foram lendo, à turma, as respectivas perguntas. Algumas bem engraçadas e que nos arrancaram sonoras gargalhadas; outras bem estruturadas, sérias e mesmo profundas. O Gonçalo e a Joana decidiram entrevistar o José Mourinho.
Ainda bem que as questões não saíram da sala 7, do Pavilhão B, ou o nosso Mister ficaria seriamente atrapalhado, perante estes dois jornalistas em miniatura.
Na aula seguinte, fomos à biblioteca e cada um requisitou um livro, que teria de ler, em casa, durante as duas semanas seguintes. O Gonçalo escolheu Pedro, o Fura Redes. Eu aproveitei para requisitar e reler Os Capitães da Areia, do meu querido Jorge Amado. É importante, é necessário que os alunos sintam que eu sou como eles e que eu seja um exemplo a seguir.
Passaram as duas semanas e dedicámos uma outra semana à apresentação dos livros lidos. Comecei por lhes ler um pequeno excerto do meu livro, em voz alta e expressivamente. Falei-lhes um pouco da história e apontei-lhes as razões que me levariam a aconselhar a sua leitura. Ouviram-me atentamente e todos fizeram o mesmo. No final, preenchemos uma pequena ficha de leitura e quem quis, ilustrou-a.
O Gonçalo desenhou um jogador do Benfica, todo aperaltado, equipado a rigor, uma bola vermelha enorme e uma baliza descomunal em que cabiam todos os golos da sua imaginação!
Como trabalho de casa teriam de fazer uma pesquisa sobre o autor, procurando na net, num manual ou numa enciclopédia e redigir um pequeno texto para ser lido na aula. Como texto do mês, a que os habituara desde o quinto ano, poderiam aproveitar para fazer o resumo ou o reconto da obra acabadinha de ler e ilustrá-la. Dei-lhes uma semana para a tarefa ficar concluída.
Todos fizeram o que eu lhes pedira no tempo proposto. Os recontos e os resumos foram corrigidos por mim, lidos à turma, pelos respectivos autores e colocados nos quadros de cortiça da sala 4, do Pavilhão A.
“E agora, o que faça relativamente às aventuras?” - pensei eu – “Isto é que é uma verdadeira aventura para mim!”
“E se eles escrevessem uma pequena aventura colectiva será que resultaria como preparação do caminho para mais uma ida à Biblioteca Escolar?” – interrogava-me.
Pensei e considerei a ideia boa.
Numa sexta-feira, à tarde, aos dois últimos tempos, cheguei à sala e propus-lhes a redacção de uma aventura colectiva começada por “Era uma vez...”, em que cada um continuasse a ideia do outro e em que as frases fossem sendo, simultaneamente, registadas no quadro e nos cadernitos diários.
A princípio refilaram com o humor costumado de sexta-feira à tarde, mas depois que aventura! Que aventura dali saiu! Havia um príncipe loiro, musculoso, de lindos olhos verdes, uma princesa morena, linda de morrer, de enormes olhos azuis, um castelo bem guardado por um terrível dragão que lançava chamas azuis das narinas enormes e um casamento feliz, na igreja de Mafra, depois de um salvamento complicado e bem arriscado.
Na segunda-feira seguinte, o conto colectivo foi lido à turma. A grande maioria tinha-o ilustrado e alguns tinham-no passado a banda desenhada.
Os trabalhos foram afixados no painel da nossa sala e mais tarde no Polivalente e na Biblioteca.
Passados dias, lá fomos nós, de novo, à nossa biblioteca requisitar livros de aventuras.
O Gonçalo requisitou os 1001 Detectives! Os livros foram lidos, durante as férias da Páscoa e preenchidas as respectivas fichas de leitura.
Ao regressarem, apresentaram as suas fichas e os seus livros aos colegas. Surpresa das surpresas, os olhitos atrevidos do meu amigo Gonçalo brilhavam ao falar do seu livro.
Deduzi que tinha gostado do que lera e começado a gostar de ler. Fiquei feliz, como ficamos sempre que conseguimos alcançar o que queremos.
Agora o meu Gonçalo continua a ler fluentemente e lê. Descobriu que se podem viver aventuras, ser o super-homem, jogar à bola, marcar golos como o Ronaldo, sem sair do conforto do sofá. Descobriu também que pode viajar no tempo, atravessar oceanos, conhecer novos mundos, ir a estádios repletos de adeptos, à luz do seu candeeiro de mesa-de-cabeceira, debaixo dos seus cobertores e no conforto da sua camita e eu na minha, já cansada de mais um dia de trabalho, apago a luz, cerro os olhos e penso: “Que bom! O meu Gonçalo já lê!”

Olga Macedo. Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos de Mafra
Planificar uma Estratégia de Formação de Leitores

Perfil 1 *
. aluno com 11 anos
. sexo masculino
. gosta de futebol, aventuras
. tem uma leitura fluente, mas não lê

Antes de começar este pequeno relatório gostaria de dizer o seguinte:
«Folhear um livro é espreitar para dentro de uma caixinha sem chave, uma caixinha ao alcance das mãos e dos olhos» António Torrado
Livro; uma máquina de viajar no tempo, companheiro de aventuras nos mares ignorados e nas Ilhas que os mapas não registam.
Ao abordar este simples relatório, o que penso imediatamente é nos meus filhos. Quando eram pequenos iam para a cama com um livro, a Inês mais velha já fazia perguntas e eu estava a reparar que a minha filha «tinha entrado» no livro. Passou-se o mesmo com o meu filho.
Embora não leccione Língua Portuguesa penso que todos tinham que dar a sua opinião sobre livros...
Vamos fazer uma Biblioteca de Turma e todas as semanas lemos... Livros que trazia de casa. Foi sem dúvida uma alegria que ninguém pode imaginar...
“Mexiam” nos livros, começaram a ter com o livro uma grande empatia, foi o que aconteceu com o «Menino»*.

Quem escreve está a utilizar
a palavra para chegar
ao que as palavras não conseguem dizer,
ao indizível.

Como nunca lá chegamos, continuamos a escrever...

Paula Cristóvão
Leitores, Leituras e Estratégias

Depois de termos discutido, em Oficina, muitas estratégias e o leitor, propusemo-nos a "ensaiar" uma estratégia de formação de leitores, a partir de um perfil de aluno ficcionado (fingimento=sinceridade?), que nos foi atribuído. Surgem, assim, algumas propostas, umas em jeito de diário, outras em forma de planificação. Ei-las, acabadinhas de escrevinhar...

06 julho 2007

PLANIFICAR UMA ESTRATÉGIA DE FORMAÇÃO DE LEITORES:

Perfil 5:
- Aluno com 14 anos;
- Sexo masculino;
- Adora bibliotecas;
- Acha que o cheiro dos livros é o melhor que há;
- É fluente, mas não lê.


Tipo(s) de texto(s): Livros que remetam para Como organizar uma Biblioteca.
Livros de temáticas várias.

Estratégias de leitura: Leitura silenciosa e em voz alta feita pelo aluno aos colegas.

Público-alvo: Colegas da turma, da mesma idade, do sexo masculino e feminino.

Actividades: O objectivo é transmitir ao aluno a ideia de biblioteca enquanto meio difusor de conhecimentos; os diversos tipos de bibliotecas (pública, escolar, especializada, universitária e nacional); os tipos de documentos (obras de referências; monografias e publicações periódicas) e a organização do espaço (selecção, registo, carimbagem, catalogação e classificação e arrumação dos livros).
A partir daqui, pedir ao aluno para ser o monitor de um pequeno grupo de colegas, constituído, no máximo, por quatro elementos, que elaborará um guião sobre esta matéria.
Posteriormente, o aluno terá de sugerir uma obra a cada um dos seus colegas. Este sentido de responsabilidade influenciará o próprio aluno a ler e promoverá o gosto pela leitura nos colegas da turma. Serão reservados dez minutos, semanalmente, para esta actividade.

Recursos materiais: Livros da Biblioteca de temáticas várias.

Recursos humanos: Professor, bibliotecário/a e colegas de turma.

Calendarização: Um período lectivo.

Resultados esperados: Promoção da leitura através da responsabilização deste aluno do sexo masculino, de 14 anos de idade, que adora bibliotecas, que acha que o cheiro a livros é o melhor que há, é fluente e, neste momento, já aprendeu a gostar de ler.