24 maio 2007

Receita de Leitura

Doses da amostra

“Quando a Primavera chegou, vestida de luz, de cores e de alegria, olorosa de perfumes sutis, desabrochando as flores e vestindo as árvores de roupagens verdes, o Gato Malhado estirou os braços e abriu os olhos pardos, olhos feios e maus. Feios e maus, na opinião geral.
(…) Sentia-se leve, gostaria de dizer palavras sem compromisso, de andar à toa, até mesmo de conversa com alguém. Procurou mais uma vez com os olhos pardos, mas não viu ninguém. Todos haviam fugido.
Não, todos não. No ramo de uma árvore a Andorinha Sinhá fitava o Gato Malhado e sorria-lhe. Somente ela não havia fugido. (…)
- Tu não fugiste com os outros?
- Eu? Fugir? Não tenho medo de ti, os outros são todos uns covardes… Tu não me podes alcançar, não tens asas para voar, és um gatarrão ainda mais tolo do que feio. E olha lá que és feio…
- Feio, eu? (…)
- Feiíssimo… - reafirmou lá de longe a Andorinha.
- Não acredito. Só uma criatura cega poderia me achar feio.
- Feio e convencido!
A conversa não continuou porque (…)”.

Jorge Amado, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: Uma História de Amor: Mem Martins, Publicações Europa - América , 1993


Composição
O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: Uma História de Amor obra–presente de aniversário de Jorge Amado, em que o princípio activo é o amor entre um Gato Malhado, tido como um ser feio, mau e egoísta, e uma bela, simpática e gentil Andorinha, chamada Sinhá, num parque das “profundas do passado quando os bichos falavam”. Uma história de um amor inaudito e impossível que a Manhã conta ao Tempo, depois de a ter escutado ao Vento, e que o narrador admite poder transmiti-la por a ter ouvido do “ilustre Sapo Cururu”. Portanto, uma narrativa de narrativas. Era uma vez…

Indicações
Uma leitura recomendada a quem aprecia uma fascinante viagem pelo mundo da fantasia e dos sentimentos, nobres e vis, e, sobretudo, a todos os que, tal como a sensata Coruja desta história, acreditam que é preciso nem que seja uma “revoluçãozinha” contra os preconceitos, a intolerância e a marginalização. Mas pode prescrever-se a quem já seja dotado da capacidade de ler!

Precauções
Não é recomendável o silêncio acerca do que se lê. Alivie este sintoma, partilhando as suas leituras com os seus amigos. Fale, murmure, critique, recomende.

Posologia
Pequena-grande obra que se pode ler de uma só vez. No entanto, se preferir, desfrute-a capítulo a capitulo, de acordo com a sua disponibilidade. Não se esqueça de apreciar a coloridas e belíssimas aguarelas de Carybé.
Se a dose-amostra lhe agradou, procure a dose completa numa biblioteca ou livraria.

Outras apresentações
Da vastíssima patente de Jorge Amado, sugere-se: Capitães da Areia e Dona Flor e Seus Dois Maridos, como forma de se impregnar do maravilhoso vício de conhecer este autor.


2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Ana

Gostei do envio da dose de amostra, tomei e dei este remédio ao meu filho há uns anos, ele adorou e viciou-se nesse medicamento durante bastante tempo.
A obra de Jorge Amado e, em particular, este livrinho com uma história de amor entre dois seres tão diferentes (Gato Malhado e Andorinha Sinhá). Razão tem a sensata coruja da história, é preciso uma permanente luta contra os preconceitos e a intolerância face às diferenças culturais, ideológicas e humanas.
Bom trabalho!

Jack Duarte disse...

Gorete,
Ainda esta semana recomendei este "Gato", é uma bela história. Faz parte do lote das que são "escritas para crianças", mas que devem ser lidas pelos mais crescidos.
Foi bom relembrar. Obrigada!