31 maio 2007

Perfumes

- Seu filho está doido – disse ela, de noite na varanda, sem saber que eu estava escutando.
- Ele não larga os livros. Hoje ele estava os livros daquela estante que vai cair para cheirar.
- Que é que tem isso? É normal, eu também cheiro muito os livros daquela estante. São livros velhos, alguns têm um cheiro óptimo.

João Ubaldo Ribeiro, Um Brasileiro em Berlim, Editora Nova Fronteira


É normal, claro, que é normal. Apanho-me sozinha, numa livraria ou em casa e o cheirinho dos livros é como perfume para alma. Pelo cheiro se identificam: se são novos, ou mais vetustos, se acabaram de sair da gráfica ou estão encafuados num local recôndito, se foram à praia, assim cheirarão também, se estiveram ao sol, assim libertarão o odor das páginas secas. Os livros não são apenas letras, os livros são também cheiros e os cheiros são a memória de quem somos.
Leonor Barros

27 maio 2007

Novas receitas

Dose de amostra
"Era uma vez uma csas branca nas dunas, voltada para o mer. Tinha uma porta, sete janelas e uma varanda de madeira pintada de verde. Em roda da casa havia um jardim de areia onde cresciam lírios brancos e uma planta que dava flores brancas, amarelas e roxas.
Nessa casa morava um rapazito que passava os dias a brincar na praia.
Era uma praia muito grande e quase deserta onde havia rochedos maravilhosos. Mas durante a maré alta os rochedos estavam cobertos de água. Só se viam as ondas que vinham crescendo do longe até quebrarem na areia com um barulho de palmas."

Composição
A Menina do Mar é um pequeno conto escrito por Sophia Mello Breyner Andresen que se destina fundamentalmente a crianças e jovens. Não deixando, no entanto, de encantar qualquer tipo de leitor pelo ritmo e pela poesia que transmite.
Os variados recursos estilísticos utilizados nesta prosa poética transitem sensações de alegria e magia, suscitando a imaginação dos leitores para um mundo maravilhoso onde tudo é possível, a amizade, a lealdade e a coragem surgem como valores essenciais da relação entre as personagens.

Indicações
O movimento e a cor que nos são transmitidos por uma linguagem aparentemente simples suscitam o desenvolvimento da imaginação e da criatividade, do gosto pela leitura e pela escrita nos jovens, levando-os com frequência a imitarem o estilo nas suas composições.

Precauções
Este livro deverá ser lido em voz alta, sem o que parte do seu ritmo e do seu encanto se perderá.

Posologia
Deve ser lido todos os dias ao deitar para influenciar os sonhos e evitar os pesadelos das crianças.

Outras obras
Sophia de Mello Andresen tem outras obras igualmente poéticas e dirigidas especialmente para as crianças e jovens, embora eu ao ler estas obras me tenha sentido encantada e levada para um mundo distante.
Outras obras: A Fada Oriana, O Cavaleiro da Dinamarca, A Floresta e O Rapaz de Bronze.
Todas estas obras encantaram-me e de um modo geral encantaram os meus alunos.

Receita prescrita por Paula Cristóvão.

Dose de amostra
“Este devia ser um capítulo longo porque o começo do Inverno foi um tempo de sofrimento. Mas por que falar de coisas tristes, por que contar as maldades do Gato Malhado cujos olhos andavam escuros de tão pardos? Disso falavam as cartas enviadas pelos habitantes do parque, cartas que o Pombo-Correio levava a outros parques distantes. As notícias chegaram até o longínquo esconderijo da Cobra Cascavel e mesmo ela tremeu de medo. Diziam da maldade do Gato mas diziam também da sua solidão. Jamais o Gato Malhado voltara a dirigir a palavra a quem quer que fosse. Tão grande solidão chegou a comover a Rosa-Chá que confidenciou ao jasmineiro, seu recente amante:
- Coitado! Vive tão sozinho, não tem nada no mundo…”

Composição
O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá é um conto escrito por Jorge Amado, em 1948, como presente de aniversário para seu filho João Jorge, quando este completou um ano. Embora seja um livro tradicionalmente indicado para jovens, a sua ternura traz enormes benefícios, qualquer que seja a sua idade.
Conta-nos a história de amor entre dois seres quer física, quer psicologicamente opostos, o gato de mau feitio, rabugento, amigo de brigas e a Sinhá, andorinha de boas famílias e virtuosa. O gato modifica o seu comportamento, mas a união entre os dois não se concretiza, pois ela casa com o rouxinol e não se sabe o fim do pobre e abandonado gato que apenas vivia no seu mundo de recordações de doces momentos e lembranças alegres.

Indicações
Está indicado para todos os seres que acreditam no amor, mesmo entres seres diametralmente opostos.

Precauções
Depois de ler o livro deve-se falar dele com os nossos amigos, recomendá-lo, compartilhá-lo, pois esta partilha só traz benefícios. Não é recomendável guardá-lo só para si.

Posologia
É conveniente dedicar um bocado do nosso tempo à leitura. Dez, vinte, trinta minutos diários, preferencialmente à noite, quando tudo está mais calmo. Pode ler-se pouco a pouco ou de uma vez.
Se depois desta amostra quiser a dose completa, pode encontrar este conto na livraria ou na biblioteca.

Outras apresentações
As pessoas que leram esta história também gostaram de outras obras do mesmo autor como Gabriela, Cravo e Canela, Dona Flor e seus dois maridos, Teresa Batista cansada de guerra ou Capitães da Areia.

Receita prescrita por Graça Salavisa

25 maio 2007

Receita de Leitura


"O Cavaleiro da Armadura Enferrujada", de Robert Fisher


Dose da amostra

Ésquilo e Rebecca observaram o cavaleiro cair de joelhos, com lágrimas de gratidão escorrendo-lhe dos olhos. «Quase morri das lágrimas que não chorei», pensava. As lágrimas deslizavam pelo rosto, através da barba, até ao peito. E porque provinham do seu coração, eram extraordinariamente quentes e depressa derreteram o que restava da armadura.
O cavaleiro chorou de alegria. Não voltaria a colocar a armadura e cavalgar numa direcção qualquer. As pessoas não voltariam a ver o reflexo cintilante do aço, pensando estarem a ver o raiar do Sol a norte ou o ocaso a oriente.
Sorriu através das lágrimas, sem se dar conta de que uma luz nova, e radiante, emanava agora do seu ser e uma luz muito mais brilhante e mais bela do que a da sua armadura polida, uma vez resplandecente, como um ribeiro, cintilante como a Lua, ofuscante como o Sol.
Pois, em verdade, o cavaleiro era o ribeiro. Ele era a Lua. Ele era o Sol. Podia agora ser todas essas coisas ao mesmo tempo, e mais ainda, porque estava em uníssono com o universo.
Ele era amor.


Composição

“O Cavaleiro da Armadura Enferrujada”, de Robert Fisher é um daqueles raros livros que se encontram e se cruzam no nosso caminho, por sorte, duas ou três vezes na vida, que lemos e que têm o condão de nos modificar e de nos fazer encarar os outros e o mundo que nos rodeia de uma forma diferente.
É uma história de uma beleza invulgar, posso mesmo acrescentar, é um longo poema em prosa, de uma simplicidade comovente, feita de vocábulos simples, mas simultaneamente profundos, belos, expressivos e tão ricos que chegam ao mais profundo da nossa alma.
O Cavaleiro e a sua armadura somos nós, com as nossas limitações e barreiras, impostas por nós próprios e pelos outros. Somos nós que passamos ao lado das coisas belas e simples da vida sem as ver, ao lado dos amigos, dos colegas, dos nossos entes queridos sem os amar como merecem ser amados.
O Cavaleiro iniciou a sua viagem para se libertar da armadura que o incomodava, tal como nós o deveríamos fazer. Descobriu o silêncio, a verdade, a determinação, a magia e teve a coragem de chorar, de reconhecer o que estava errado na sua vida e de o modificar enquanto se purificava. Perdeu a armadura e passou a ser ele próprio, um ser cheio de amor, como todos nós deveríamos ser.
Como diz o nosso poeta “o sonho comanda a vida” e eu atrevo-me a acrescentar “…e o Amor também”.
Foi escrita por Robert Fisher em 1990, escritor com um currículo absolutamente notável, autor de programas de rádio e de TV, de guiões cinematográficos e de espectáculos para a Broadway. “O Cavaleiro da Armadura Enferrujada” foi o seu primeiro romance e consta do top dos livros mais inspiradores de sempre.

Indicações

“O Cavaleiro da Armadura Enferrujada” pela simplicidade das suas palavras, está indicado para crianças, jovens e adultos, é benéfico e constitui um ensinamento para todos os leitores qualquer que seja a sua idade. Está também indicado quando sofremos sem saber o que temos ou quando desejamos mais do que o simples quotidiano da nossa vida.

Precauções

Não deve ser lido só por nós, no silêncio do nosso cantinho acolhedor, mas sim compartilhado por todos aqueles que procuram a verdade, o conhecimento e o amor pelos outros e pelas coisas simples e tão bonitas da vida.
Não deve ser lido por quem não é sensível e não tem um espírito aberto ou por quem, por muito que faça, não consegue tirar a sua “armadura”, ou não se apercebe de que a tem colocada.

Posologia

Deve ser lido todos os dias. Não de doze em doze ou de oito em oito horas, mas sempre que sintamos que nos falta algo que nos anime, sem medo de sobredosagem, pois o amor é inócuo.

Outras Apresentações

Foi o primeiro romance de Robert Fisher nomeado quatro vezes para o prémio Humanidade, que escreveu também para a maior parte dos comediantes do nosso tempo e foi autor ou co-autor de mais de quatrocentos programas de rádio, de cerca de 1000 programas de TV, de diversos guiões cinematográficos e de numerosos espectáculos para a Broadway. Escreveu também cerca de vinte livros sobre telas educativos.
Aconselhamos também a leitura de outras obras suas como “O Gato que encontrou Deus”, “Jogos para Pensar”, “Valores para Pensar” e “O Cavaleiro silencioso e outros Relatos”.

(Receita de Leitura prescrita por Olga Macedo)

24 maio 2007

Receita de Leitura

Doses da amostra

“Quando a Primavera chegou, vestida de luz, de cores e de alegria, olorosa de perfumes sutis, desabrochando as flores e vestindo as árvores de roupagens verdes, o Gato Malhado estirou os braços e abriu os olhos pardos, olhos feios e maus. Feios e maus, na opinião geral.
(…) Sentia-se leve, gostaria de dizer palavras sem compromisso, de andar à toa, até mesmo de conversa com alguém. Procurou mais uma vez com os olhos pardos, mas não viu ninguém. Todos haviam fugido.
Não, todos não. No ramo de uma árvore a Andorinha Sinhá fitava o Gato Malhado e sorria-lhe. Somente ela não havia fugido. (…)
- Tu não fugiste com os outros?
- Eu? Fugir? Não tenho medo de ti, os outros são todos uns covardes… Tu não me podes alcançar, não tens asas para voar, és um gatarrão ainda mais tolo do que feio. E olha lá que és feio…
- Feio, eu? (…)
- Feiíssimo… - reafirmou lá de longe a Andorinha.
- Não acredito. Só uma criatura cega poderia me achar feio.
- Feio e convencido!
A conversa não continuou porque (…)”.

Jorge Amado, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: Uma História de Amor: Mem Martins, Publicações Europa - América , 1993


Composição
O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: Uma História de Amor obra–presente de aniversário de Jorge Amado, em que o princípio activo é o amor entre um Gato Malhado, tido como um ser feio, mau e egoísta, e uma bela, simpática e gentil Andorinha, chamada Sinhá, num parque das “profundas do passado quando os bichos falavam”. Uma história de um amor inaudito e impossível que a Manhã conta ao Tempo, depois de a ter escutado ao Vento, e que o narrador admite poder transmiti-la por a ter ouvido do “ilustre Sapo Cururu”. Portanto, uma narrativa de narrativas. Era uma vez…

Indicações
Uma leitura recomendada a quem aprecia uma fascinante viagem pelo mundo da fantasia e dos sentimentos, nobres e vis, e, sobretudo, a todos os que, tal como a sensata Coruja desta história, acreditam que é preciso nem que seja uma “revoluçãozinha” contra os preconceitos, a intolerância e a marginalização. Mas pode prescrever-se a quem já seja dotado da capacidade de ler!

Precauções
Não é recomendável o silêncio acerca do que se lê. Alivie este sintoma, partilhando as suas leituras com os seus amigos. Fale, murmure, critique, recomende.

Posologia
Pequena-grande obra que se pode ler de uma só vez. No entanto, se preferir, desfrute-a capítulo a capitulo, de acordo com a sua disponibilidade. Não se esqueça de apreciar a coloridas e belíssimas aguarelas de Carybé.
Se a dose-amostra lhe agradou, procure a dose completa numa biblioteca ou livraria.

Outras apresentações
Da vastíssima patente de Jorge Amado, sugere-se: Capitães da Areia e Dona Flor e Seus Dois Maridos, como forma de se impregnar do maravilhoso vício de conhecer este autor.


23 maio 2007

Receita de Leitura

Dose de Amostra

O telefone despertou-me numa fria manhã de Junho. Sentei-me na cama. A luz, lá fora, inerte e alheia, morria numa lenta gradação de cinzentos. Era triste como uma fotografia antiga. Naquela posição, sem precisar de mover a cabeça, sem precisar sequer de mover os olhos, eu via os barcos levitando na baía. Luanda em Junho pode ser uma cidade muito triste. Reconheci a voz, do outro lado, mas não me conseguia lembrar a quem pertencia.
- Aconteceu de novo...
- Quem fala?
O gritar das cigarras. Uma funda e escura alameda de acácias rubras. Fechei os olhos e voltei a ver os troncos cobertos pelas cascas das cigarras. Quando era criança achava que fossem fantasmas de cigarras. Não sabia ainda que as cigarras mudam de pele (ou de corpo) vezes sem conta. Fiz um esforço para afastar o sono. Preferia estender-me na cama e adormecer de novo. Tenho sonhos tristes. Às vezes choro enquanto durmo. Só choro, aliás, enquanto durmo. Todavia a luz, lá fora, era ainda mais triste do que as sombras dos meus sonhos mais tristes.

José Eduardo Agualusa (2006), Passageiros em Trânsito, Dom Quixote


Composição
Passageiros em Trânsito é composto por vinte e dois contos do escritor angolano José Eduardo Agualusa, anteriormente publicados na revista do Público e agora compilados num só volume. A composição recente data de 2006. A aventura, o fantástico e a inquietude de outras latitudes são os princípios activos de base, embora outros componentes presentes contenham a procura incessante de quem somos afinal nesta travessia e alguma nostalgia encerrada no verbo partir.

Indicações
Passageiros em Trânsito está particularmente indicado para quem gosta de viajar, sente o apelo da partida e tem curiosidade acerca de paragens distantes. Também indicado para quem aprecia uma boa prosa, simples e despretensiosa, mas carregada de significado e alguma mística que espreita aqui e ali.

Contra-indicações
Não deve ser lido por indivíduos com obsessão pela segurança do aconchego do lar, cheios de certezas, desprovidos de fantasia e com tendência para a aversão a relatos ficcionais e estórias com laivos de exotismo, algumas peripécias e palavras cheias de calor e cor. O carácter breve e conciso dos contos está contra-indicado nos amantes de romances longos e densos.

Precauções
Indivíduos sugestionáveis com tendência para imergirem nas personagens devem evitar a leitura de Passageiros em Trânsito. Podem ocorrer ataques ligeiros de ansiedade de partida e excitabilidade. Verificaram-se casos raros de taquicardia e alucinações. Caso os leitores sintam uma coceira no estômago, a curiosidade a crescer dentro de si ou a procura involuntária do passaporte ou da mala de viagem devem descontinuar a leitura imediatamente. Se os sintomas persistirem mude de leitura ou corre o risco de acordar no outro lado do Atlântico.

Posologia
Passageiros em Trânsito deve ser lido em doses pequenas, ao ritmo de um conto por dia para melhores resultados e fazer jus ao tempo diferente e ritmado das latitudes em que decorre a acção. Se se sentir tentado a rumar pela leitura dentro pode ler dois ou mais. Não são conhecidos efeitos de sobredosagem. É muito bem tolerado por indivíduos imaginativos e de alma errante.

Outras apresentações
Se se deu bem com a leitura de Passageiros em Trânsito deve continuar a ler mais livros do autor como um Estranho em Goa ou O Vendedor de Passados. Como complemento estão indicados outros relatos de viagens alicerçados na realidade de carácter não ficcional como Sul de Miguel Sousa Tavares. Recomenda-se a leitura de Mia Couto, com especial incidência no mais recente romance do escritor moçambicano O Outro Pé da Sereia.

22 maio 2007

Receita de Leitura


DOSE DE AMOSTRA:
“A televisão mais bonita do mundo”

“(...) Olhei o cinzento da televisão e umas três luzes apareceram de repente como se fossem um semáforo maluco e tive a certeza que aquela era mesmo a televisão mais bonita do mundo. Fez um ruído tipo um animal a respirar e acendeu devagarinho. Não consegui ficar calado e disse bem alto: «chéeeeeeee, essa televisão é bem esculú!», e todos riram do meu espanto assim sincero: era a primeira televisão a cores que eu via na minha vida.
A imagem apareceu bem nítida e cheia de cores. Era linda e eu nunca tinha reparado que um apresentador de televisão podia vestir uma roupa com tantas cores. Lembro-me ainda hoje: estava a dar o noticiário em língua nacional tchkwe. Ninguém entendia nada, baixaram o som. A tia Rosa disse-me «fecha a boca, vai entrar mosca», e todos riram outra vez. Não me importei.
(...) Fiquei com inveja dos filhos do Lima que todos dias iam ver cores naquela televisão a cores: a telenovela Bem-Amado com o Tito e o Piranha, os bonecos animados do Mitchi, o Gustavo com três fios de cabelo e até a pantera Cor-de-Rosa com o cigarro bem comprido. «Tudo a cores, como uma aguarela bem bonita», pensei, enquanto a tia Rosa me fazia festinhas na cabeça.”

Ondjaki – Os da minha rua. Lisboa: Caminho, 2007.

COMPOSIÇÃO:
Conjunto de pequenas histórias redigidas por um jovem escritor angolano, de edição “fresquinha” (Março de 2007). O princípio activo baseia-se na realidade, com as recordações da infância e adolescência que nos transportam a um tempo mágico. As situações mais cómicas entrecruzam-se com o lirismo, a inocência e o sentimento próprios dos primeiros ensaios da vivência de emoções. Actua rapidamente sobre a perda de memória.


INDICAÇÕES:
Esta obra é especialmente indicada a todos aqueles que desejam fazer um lifting emocional e relembrar que um dia já foram “mais” pequenos... e agiram em conformidade! Também recomendado aos “trintões”, contemporâneos do autor, pelo conjunto de referências comuns, com especial incidência na década de 80 (confronte-se com a dose de amostra) e, ainda, aos adolescentes do século XXI, pela identificação com a composição dos fármacos literários. “Mudam-se os tempos”, mas nem sempre se mudam as vontades!

PRECAUÇÕES:
Os mais velhos (os referidos trintões) não se devem centrar no revivalismo exagerado, pois correm o risco de desvalorizar outras fases do seu desenvolvimento, como a actual “pós-adolescência”. Experimentem, antes, partilhá-lo com a geração precedente.

POSOLOGIA:
Se estiver a gostar, leia só uma história cada dia, assim o prazer prolongar-se-á por 22 dias, com duas tomas extra: duas cartas em tom poético trocadas entre o autor e uma amiga. Não esquecer a ultiminha página, onde se esconde esta citação do poeta brasileiro Manoel de Barros: “Um livro o ensinou a não saber nada – agora já sabe.”

OUTRAS APRESENTAÇÕES:
Todas as outras obras do autor, com sabor a África (Angola), com incursões por diversos modos e géneros literários. Para os que sararam “feridas”, sugerimos um “genérico” de composição idêntica – Diário inventado de um menino já crescido, de José Fanha. A intertextualidade assenta na recordação, vista pelos olhos de um menino grande, com um comprimento de onda confessional semelhante ao do nosso autor.

Votos de rápidas melhoras!
Jack Duarte

21 maio 2007

Receita de leitura

Gosto de Ti. R.
Dose de amostra:
Era o romance que lhe emprestara. Só que… Outra vez um papel a espreitar por entre as páginas de um livro?! Bem, bilhetinho, desta vez, não era certamente. Tranquilamente, abri-o e… nem queria acreditar! Era outro bilhetinho quase igual ao anterior, só tinha a mais os quadradinhos que talvez faltassem no quebra-cabeças. Num entusiasmo, juntei-os aos outros. Parecia um passarinho… Fazia lembrar, fazia lembrar o canário que eu desenhara um dia para o Filipe, mas esse era o Carinho! Como era possível?! Seria que o quebra-cabeças quereria dizer: «Com carinho. R»? Afogueada, com o coração tonto de bater tanto e ainda sem acreditar… Além da minha mãe e do Filipe só o... (Excerto retirado de Gosto de Ti. R., de Graça Gonçalves, Edinter, Lisboa, 1992.)

Composição:
Gosto de Ti. R. é o título desta história de Graça Gonçalves, cuja intriga desde cedo nos prende e surpreende. Afinal, independentemente da idade, todos gostamos de ouvir «Gosto… gosto de… gosto de ti.»

Indicações:
Este livro é, sobretudo, indicado para jovens curiosos que, ante uma pergunta, um problema, um desafio, persistem na procura da solução. Contudo, Gosto de Ti. R. poderá também ser prescrito àqueles que gostem de escrevinhar em pequenos pedaços de papel (vulgo «bilhetinho»).

Precauções:
Sendo esta uma história em que se vive o desabrochar de diversas emoções, recomenda-se a partilha desta experiência de leitura com aqueles que lhe são mais próximos (amigos, familiares, etc.); a inexistência de partilha é extremamente prejudicial à saúde de qualquer leitor.

Posologia:
Recomenda-se, no mínimo, a leitura de dois capítulos por dia. No entanto, se tiver uma crise aguda de leitura, aconselha-se a leitura completa do livro o quanto antes (se sentir necessidade, pare de ler para comer e dormir). No verso deste folheto encontrará uma amostra de leitura, mas poderá ter acesso à dose completa numa livraria ou numa biblioteca perto de si.

Outras apresentações:
Se a leitura deste livro (ou da dose de amostra) foi agradável, também gostará dos seguintes títulos: Diário de Sofia & Companhia (aos 15 anos), de Luísa Ducla Soares e Diário Secreto de Camila, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada.

20 maio 2007

Receita de leitura

Ulisses

Dose de amostra:
Tão grandes foram essas suas aventuras e desventuras, que ele teve de as continuar vivendo dentro de si próprio, contente por assim ir navegando na grande e inesperada aventura de se sentir finalmente feliz. (MENÉRES, Maria Alberta, Ulisses, 32.ª edição, Edições Asa, 2006).

Composição:
Ulisses, da autoria de Maria Alberta Menéres, é especialmente indicado para jovens adolescentes que partilhem o espírito de aventura e façam deste o cerne das suas vidas. Quando alguém se sentir deprimido, inspire-se no herói das «mil façanhas», Ulisses, rei de Ítaca, adorado por todos. Neste sentido, este livro será uma receita, também, para os adultos, de forma a que, verdadeiramente, (re)conheçam o valor da vida e da luta pelos próprios ideais.

Indicações:
Quem deseja ansiosamente a felicidade terá de, a cada segundo que passa, lutar por ela, pois nunca se deve esperar que esta «nos bata à porta». Trata-se de uma viagem duradoira, mas talvez frutífera…

Precauções:

Não é recomendável aos leitores que sofram de ansiedade. É benéfico ler calmamente o livro até ao final e recomendá-lo a toda a família. Trata-se de uma leitura deliciosa que, aliada a espantosas ilustrações, será o remédio para alterar os estados de espírito mais depressivos.

Posologia:
É conveniente dedicar um fim-de-semana à leitura deste livro. Se se preferir, até porque se trata de um livro de leitura rápida, poder-se-á lê-lo de uma só vez. Encontrá-lo-á em qualquer livraria.

Outras apresentações:
As pessoas que lerem este livro certamente gostarão de outros da mesma autora: À Beira do Lago dos Encantos, O poeta faz-se aos 10 anos, Histórias de tempo vai tempo vem, Figuras figuronas, A chave verde ou os meus irmãos, Aventuras da Engrácia, O ouriço-cacheiro espreitou 3 vezes, entre outros.

17 maio 2007

Por receita

E eis que chegou mais uma quinta-feira, dia em que habitualmente tem lugar a nossa Oficina de Formação. Hoje, e porque cá em Mafra é feriado, ficámos sem o nosso espaço de partilha de ideias e livros, opiniões e saberes, mas não fiquem a pensar que nada fizemos. Na verdade, temos um trabalhinho de casa.
Numa das sessões passadas foi-nos dado a conhecer uma campanha da Extremadura, Espanha para a promoção da leitura. Consiste em disponibilizar em lugares inusitados, nomeadamente farmácias e hospitais, receitas de leitura com prescrição, advertências, e tudo o mais que habitualmente as bulas dos medicamentos contêm. Genial! Portanto, qual é o nosso trabalho de casa? Adivinharam! Toca a procurar um livro e prescrevê-lo! Quando e como tomar, quais as precauções, as doses diárias, para quem é indicado, existem contra-indicações? Eu já decidi qual o livro, entretanto, reli-o e agora só me falta mesmo arregaçar as mangas, ou devo dizer vestir a bata?, e receitá-lo. Vamos ver o que sai. Iremos dar notícias entretanto. Fiquem atentos! Ler é mesmo o melhor remédio.

04 maio 2007

Bookcrossing

E se os livros tivessem alma e vida própria, pertencessem a todos e a ninguém?
Pois bem, para os bookcrossers assim é. Ler e libertar são palavras chave. Este conceito americano tem como base um princípio fundamental para todas as vidas plenas: a partilha. E para saber mais, além de visitarem o site, aqui fica o testemunho de duas bookcrossers:

02 maio 2007

Leitura, Voz (em vós) e Santos...

Face à partilha de textos em voz alta que vamos iniciar, recordo as palavras de Santo Agostinho:
"Os textos só existem quando são ditos em voz alta."

Demos "luz" às palavras!