Eu. Cristina. Mulher.
Calma. Alegre. Forte.
Olhos brilhantes.
Lábios carnudos.
Mãos frágeis.
Tronco roliço.
Mente curiosa. Interesse desperto.
Leitura DeVidas.
Ávida DeVida.
Assim sou.
Aventuras de um grupo em Formação
Oficina de Formação "A biblioteca escolar e as literacias do século XXI"


fotos: minhas
Por muito estranho que pareça, temporariamente, a Biblioteca da E. B. 2/3 de Mafra esteve alojada num autocarro. A viagem vai começar. Toca a embarcar...
Então, mas isto não é um autocarro? Lá dentro, a curiosidade aumenta...
Isto parece-me familiar...
Mas os tempos mudaram e a Biblioteca também.
Arejada, cheia de luz, bem rechada de livros, um espaço óptimo de convívio entre os utentes da Biblioteca e os livros
Mas os livros arrumadinhos nas estantes sem ninguém que os manuseie, que os folheie, que os leia são livros mortos e claro que os amantes de livros não querem nunca que tal lhes suceda...
Devolvamos-lhes então a vida!Fotos: minhas
Também aqui
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Cecília Meireles
Leonor Barros



Dose de Amostra
Composição
Passageiros em Trânsito é composto por vinte e dois contos do escritor angolano José Eduardo Agualusa, anteriormente publicados na revista do Público e agora compilados num só volume. A composição recente data de 2006. A aventura, o fantástico e a inquietude de outras latitudes são os princípios activos de base, embora outros componentes presentes contenham a procura incessante de quem somos afinal nesta travessia e alguma nostalgia encerrada no verbo partir.
Indicações
Passageiros em Trânsito está particularmente indicado para quem gosta de viajar, sente o apelo da partida e tem curiosidade acerca de paragens distantes. Também indicado para quem aprecia uma boa prosa, simples e despretensiosa, mas carregada de significado e alguma mística que espreita aqui e ali.
Contra-indicações
Não deve ser lido por indivíduos com obsessão pela segurança do aconchego do lar, cheios de certezas, desprovidos de fantasia e com tendência para a aversão a relatos ficcionais e estórias com laivos de exotismo, algumas peripécias e palavras cheias de calor e cor. O carácter breve e conciso dos contos está contra-indicado nos amantes de romances longos e densos.
Precauções
Indivíduos sugestionáveis com tendência para imergirem nas personagens devem evitar a leitura de Passageiros em Trânsito. Podem ocorrer ataques ligeiros de ansiedade de partida e excitabilidade. Verificaram-se casos raros de taquicardia e alucinações. Caso os leitores sintam uma coceira no estômago, a curiosidade a crescer dentro de si ou a procura involuntária do passaporte ou da mala de viagem devem descontinuar a leitura imediatamente. Se os sintomas persistirem mude de leitura ou corre o risco de acordar no outro lado do Atlântico.
Posologia
Passageiros em Trânsito deve ser lido em doses pequenas, ao ritmo de um conto por dia para melhores resultados e fazer jus ao tempo diferente e ritmado das latitudes em que decorre a acção. Se se sentir tentado a rumar pela leitura dentro pode ler dois ou mais. Não são conhecidos efeitos de sobredosagem. É muito bem tolerado por indivíduos imaginativos e de alma errante.
Outras apresentações
Se se deu bem com a leitura de Passageiros em Trânsito deve continuar a ler mais livros do autor como um Estranho em Goa ou O Vendedor de Passados. Como complemento estão indicados outros relatos de viagens alicerçados na realidade de carácter não ficcional como Sul de Miguel Sousa Tavares. Recomenda-se a leitura de Mia Couto, com especial incidência no mais recente romance do escritor moçambicano O Outro Pé da Sereia.

O porco. De há uns dias a esta parte, o porco não me sai da cabeça. Dou voltas e mais voltas e ele lá continua. Há lá direito que tenham feito aquilo ao porco? Coitado do Zeca, pobre do Ruca! Coitadito do Carnaval da Vitória… Está mal! Não me conformo. Acho mal. Fiquei triste. Discordo e protesto! E foi isto, porque derrubando-me avidamente sobre um livro numa noite desta semana, não consegui ir deitar-me sem ler a ultiminha frase. A meio do livro, comecei a ganhar um certo rancor a Diogo, uma raivinha em crescendo ao homem, e afecto pelo bicho. É sabido que os porcos são animais inteligentes, têm capacidades de aprendizagem semelhantes às de uma criança de três anos, exceptuando a linguagem, pois claro, são afáveis e doces e se alimentados convenientemente não se tornam em bácoros obesos e tão-pouco são imundos, portanto, a consequência natural das letras desenhadas naquele livro seriam previsíveis: primeiro o encanto, depois o afecto e agora a revolta. Por isso, continuo a protestar: acho MAL! No fundo, no fundo, acho mal, mas acho natural. De que servirão os livros, se não ficarem em nós? Foi isso que aconteceu. Ora leiam lá e digam-me se ficariam indiferentes…
O meu agradecimento à minha colega Fátima Santos que me deu a conhecer Quem me dera ser onda de Manuel Rui.
Leonor Barros©
Imagem: Rachel Deacon, "Pig"
Este texto pode ser lido aqui

P.S. Um agradecimento especial à Leonor Barros pela "arquitectura" deste blog e à Vera Lages pela sugestão do nome.